Comportamento
3 maneiras de estudar (e aprender) melhor, segundo pesquisas de cognição
Mais de um século de pesquisa nos conta que testar a si mesmo com questões práticas e deixar um espaço entre as sessões de estudo melhora o aprendizado e a memória de longo prazo. E, em última análise, essas abordagens economizam tempo.
Por: Redação em 24 de novembro de 2020
Quer você seja estudante, ou quem sabe pai de alguém que está lidando com o fechamento de escolas por causa do coronavírus, a “volta às aulas” significa estudar em algumas circunstâncias incomuns.
Aprender e ensinar podem ser uma grande oportunidade de crescimento pessoal e acadêmico mas, em meio a fatores estressantes, vale lembrar que algumas formas de aprender e reter informações são mais eficazes do que outras. Por exemplo, estudantes relatam confiar em técnicas antigas como reler livros ou notas e destacar as partes importantes, mas essas não são as abordagens mais eficazes.
Mais de um século de pesquisa nos conta que testar a si mesmo com questões práticas e deixar um espaço entre as sessões de estudo (às vezes chamado de prática distribuída) melhora o aprendizado e a memória de longo prazo. E, em última análise, essas abordagens economizam tempo.
Em minha pesquisa educacional no departamento de cinesiologia da Universidade Western [no Canadá], estou interessada em entender a forma como as pessoas aprendem e quais pequenas mudanças os instrutores e alunos podem fazer para melhorar seus resultados. Minha prioridade é entender como alunos novatos aprendem anatomia e quais estratégias cognitivas podem otimizar o aprendizado, tanto acadêmico quanto na vida diária.
Aprendizagem aprimorada
Quando o teste prático e o estudo espaçado são usados juntos, os pesquisadores chamam essa supertécnica de “reaprendizagem sucessiva” e seus benefícios são nítidos. Por exemplo, pesquisadores da Universidade Estadual de Kent [nos EUA] descobriram que os alunos que estudaram por reaprendizagem sucessiva tiveram notas 12% mais altas do que seus colegas que usavam métodos convencionais. Eles também absorveram significativamente mais informações quando testados novamente, dias e semanas após seus exames finais. Tal situação se aproxima de como você pode esperar usar o conhecimento muito além de um curso.
Além disso, um grande estudo online sobre práticas de estudo autorreguladas descobriu que o aprendizado espaçado parece ter os maiores benefícios para os alunos com notas mais baixas no exame final e pode, inclusive, minimizar os efeitos de concluir menos atividades de aprendizado ao longo de um curso.
Recuperar informações é a chave para a retenção
Apenas uma parcela das informações que você obtém se torna parte de seu conhecimento permanente ou de longo prazo. Quando você aprende algo novo, sua memória de trabalho mantém essa informação em um estado ativo, disponibilizando-a para você usar e combinar com outras coisas que você já conheça (memória de longo prazo) ou esteja experimentando no momento (memória de curto prazo).
É o que acontece, por exemplo, quando você tenta se lembrar de um número de telefone. Enquanto se concentra no número, você pode obter informações relevantes sobre a pessoa para a qual pretende ligar ou usar truques de memorização para números de telefone no passado.
Quando as informações em sua memória de trabalho param de ser usadas, porém, elas desaparecem. Sua transição de “aprendido recentemente” para “lembrado por muito tempo” depende de como a informação foi usada ou ensaiada.
Praticar a recuperação de informações é a chave para a retenção de longo prazo. O espaçamento entre essas sessões lhe dá a chance de esquecer apenas o suficiente para tornar sua recordação eficaz, permitindo que você se lembre do que aprendeu — o que melhora a memória e retarda o esquecimento. Felizmente, quase tudo, desde trabalhos escolares a novos idiomas, pode ser aprendido dessa forma.
Cuidado com as maratonas de estudo
A reaprendizagem sucessiva pode parecer difícil se comparada com as estratégias típicas (embora ineficazes), como destacar e reler. Se você foi um aluno que se concentrou para uma prova pode saber que, para lembrar no dia seguinte, as sessões de estudo intensivo realmente funcionam.
Mas os alunos normalmente não percebem o quanto e com que rapidez esquecem o conteúdo aprendido dessa forma, já que o curso geralmente termina com o exame. Isso significa que os alunos podem identificar de forma equivocada o estudo intensivo como uma estratégia fácil e eficaz, e portanto evitar formas mais difíceis — porém mais eficazes—, como reaprendizagem sucessiva, a qual na verdade promove a retenção de longo prazo.
Então, como é possível “reaprender sucessivamente?”
Divida as coisas em três etapas:
Estabeleça uma meta
Descubra o que você vai estudar — como tópicos-chave de uma palestra ou manual do motorista — e quando vai fazer isso, criando e seguindo um cronograma. Procure sessões de estudo mais curtas, espaçadas ao longo do tempo. Por exemplo, cinco sessões de uma hora são melhores do que uma sessão de cinco horas.
Pratique
Crie oportunidades para relembrar o que você aprendeu a fim de ajudar a mover as informações para o armazenamento de longo prazo. Aplicativos de flashcard online são ótimos (confira opções gratuitas como Anki e Flashcards da NKO), embora tudo o que você realmente precise seja de papel e uma caneta.
Se você for estudante, tente deixar espaços em branco nas suas anotações do curso para relembrar e escrever os conceitos depois da aula. Se você estiver ensinando, inclua testes informais em suas aulas. Além de modelar a técnica, isso também ajuda os alunos a manter a atenção, fazer anotações melhores e reduz a ansiedade do teste.
Consolide o sucesso
Verifique seu trabalho e monitore o progresso ao longo do tempo. Se você se lembrar de algo com sucesso na maioria das vezes, então pode diminuir a frequência com que revê esse mesmo conteúdo e substituí-lo por um novo conteúdo, à medida que avança. A recordação deliberada de informações é o ingrediente-chave para a reaprendizagem sucessiva, portanto, certifique-se de prendê-la em sua memória, escrevendo e se comprometendo com uma resposta antes de verificar suas anotações ou livro didático.
Lembre-se de que, sem a prática de recordação deliberada, poucas informações chegam à sua memória de longo prazo, o que inibe o aprendizado eficaz de longo prazo. Então, abaixe seu marcador e tente algo novo. O simples fato de pensar regularmente sobre um assunto e relembrar os detalhes é uma oportunidade real de sucesso.
Fonte: GALILEU: A ciência ajuda você a mudar o mundo (globo.com)