Comportamento
Como aprender a gostar de se exercitar, segundo a neurociência
A pesquisa acompanhou 132 pessoas. O objetivo era entender como diferentes tipos de exercícios conversam com pessoas de perfis diversos.
Por: Redação em 25 de novembro de 2025

Você pode ter certeza de que odeia exercícios, mas e se o problema não fosse você e sim o tipo de treino? Um novo estudo da University College London reforça algo que muita gente que não gosta de se exercitar sempre intuiu: a motivação não nasce do esforço, e sim do prazer. E esse prazer, por mais abstrato que pareça, está profundamente ligado à nossa personalidade.
A pesquisa, publicada na revista Frontiers in Psychology, acompanhou 132 pessoas durante oito semanas de treinos prescritos. O objetivo era entender como diferentes tipos de exercícios conversam com pessoas de perfis diversos e como essa combinação pode transformar tanto o condicionamento físico quanto os níveis de estresse do dia a dia.
A principal descoberta dos cientistas é que não existe um exercício ideal universal. O que existe é o exercício ideal para cada pessoa.
Colocando a personalidade em jogo
Os pesquisadores analisaram cinco grandes traços de personalidade: extroversão, amabilidade, conscienciosidade, neuroticismo e abertura para experiências. A partir dessa análise, encontraram padrões consistentes.
Pessoas extrovertidas tendem a se animar com estímulos intensos. Aulas que aceleram o coração ao ritmo da música, como HIIT, corrida intervalada ou pedaladas mais intensas, combinam naturalmente com sua energia.
Já pessoas com níveis altos de neuroticismo, frequentemente acompanhadas por algum grau de ansiedade, encontram conforto em treinos curtos, privados e discretos. Preferem se mover no próprio ritmo, sem serem observadas ou pressionadas o tempo todo.
Pessoas conscienciosas, conhecidas por disciplina e organização, costumam ter bom desempenho em praticamente qualquer estilo de treino. No entanto, isso não significa que sintam mais prazer. Para esse grupo, cumprir o que precisa ser feito pesa mais do que gostar da atividade em si.
Exercício como apoio emocional
Um dos achados mais interessantes envolve justamente o grupo mais ansioso. As pessoas com maiores níveis de neuroticismo foram as que tiveram a maior redução de estresse ao longo das oito semanas. O efeito foi tão marcante que se aproximou de uma resposta terapêutica.
Segundo Paul Burgess, professor de Neurociência Cognitiva e coautor do estudo, existe um benefício específico na redução do estresse para pessoas com pontuação alta em neuroticismo. É como se o movimento, quando encaixado da maneira certa, criasse uma pausa emocional e ajudasse a reorganizar o estado interno.
Flaminia Ronca, doutora em Fisiologia Humana e Exercício e autora principal do estudo, destaca que os resultados podem ajudar pessoas que não se encontram em nenhuma modalidade física. Ela explica que foram observadas ligações claras entre personalidade e prazer no exercício e que esse conhecimento permite personalizar recomendações, aumentando as chances de adesão. Entre as participantes que completaram o programa com base em suas personalidades, todas se tornaram mais fortes e mais condicionadas.
O segredo não é disciplina. É prazer.
Os resultados mostram que gostar de se exercitar não depende apenas de força de vontade. O fator decisivo é encontrar o tipo de atividade que conversa com quem você é. Pessoas mais amáveis podem se sentir melhor em esportes coletivos ou aulas em grupo. Extrovertidos costumam precisar de música, ritmo, intensidade e interação. Pessoas com alta abertura para experiências podem gostar de experimentar modalidades novas e desafiadoras, como o Lagree.
O caminho não é lutar contra a própria natureza. É aprender a usá-la a favor do próprio bem-estar.
Em um cenário em que tantas pessoas se sentem exaustas, sobrecarregadas e hiperestimuladas, encontrar o treino ideal pode fazer uma diferença profunda na qualidade de vida.
Fonte:Como aprender a gostar de se exercitar segundo a neurociência