Comportamento

Conheça os principais sinais de alerta de suicídio entre crianças

Apesar de o tema parecer assustador, conversar sobre ele de forma empática é uma das melhores estratégias para apoiar quem está passando por um sofrimento intenso, independentemente da idade.

Por: Redação em 21 de setembro de 2021

 

Ainda tabu em muitas famílias, o suicídio é uma questão que não aflige somente adolescentes, adultos e idosos e pode afetar também as crianças. De acordo com o IBGE, a taxa de crianças e adolescentes que tiram a própria vida no Brasil é de 1,7 a cada 100 mil. Apesar de o tema parecer assustador, conversar sobre ele de forma empática é uma das melhores estratégias para apoiar quem está passando por um sofrimento intenso, independentemente da idade. O mês de setembro, especialmente, é marcado pela campanha de prevenção ao suicídio que, nesse ano, traz a mensagem de que “falar é a melhor solução”.

Mas como saber quando é necessário ter essa conversa dentro de casa? Em entrevista à Crescer, a psiquiatra Viviani Botaro Colmanetti, do Hospital Universitário da Universidade Federal de São Carlos (SP) e a psicóloga Daniela Prestes, do Hospital Pequeno Príncipe (PR), apontam os sinais de alerta que podem indicar que a criança está tendo pensamento suicidas e o que fazer para apoiar os pequenos nessa situação tão difícil para toda família. Confira 5 perguntas e respostas sobre o tema:

1. Quais são os sinais de alerta de que uma criança pode estar pensando em se suicidar?

A ideação suicida, ou seja, ter pensamentos sobre tirar a própria vida, muitas vezes está associada a depressão, mas qualquer mudança significativa no comportamento habitual da criança merece atenção, sendo os principais sinais de alerta:

– Isolamento social. Ficar muito tempo dentro do quarto sem interagir com amigos ou família. Pouca comunicabilidade.
– Discurso pessimista frequente com conteúdo de desesperança, culpa e sentimento de menos valia, através de frases como: “não sou bom em nada” e “não consigo fazer nada direito”.
– Queda do rendimento escolar e perda de interesse em atividades e hobbies.
– Aumento da irritabilidade, baixa tolerância para frustração e crises explosivas de raiva.
– Mudança no padrão do sono e/ou apetite ou sintomas psicóticos (alucinações ou delírios).
– Expressar o desejo de morrer com frases como: “não aguento mais viver” ou “estou cansado de estar vivo”.
– Mudança na aparência, principalmente se a criança começa a usar apenas roupas de mangas compridas e calça, o que pode ser uma forma de esconder lesões e cortes na pele.

A psicóloga Daniela Prestes ressalta que para identificar esses sinais é importante conhecer bem a criança. “Os pais precisam estar próximos dos filhos e abertos a dialogar e realmente escutar o que os pequenos têm a dizer”, afirma Daniela. “Vale também ficar de olho em quanto tempo a criança fica nas redes sociais e que tipo de informação consome. Dependendo da idade, pode ser necessário estabelecer um horário para a criança ficar online e outros momentos do dia para estar com a família ou praticar um esporte. Apesar de existirem vários conteúdos interessantes nas redes sociais, há também muita informação falsa e postagens que glamourizam o comportamento suicida, o que é prejudicial principalmente para os mais jovens, que ainda estão em formação”.

2. Muitos pais acreditam que suicídio é um problema que atinge apenas adolescentes ou pessoas mais velhas. A partir de que idade isso pode acontecer com as crianças?

A ideação suicida é mais comum a partir da idade escolar, por volta dos 6 anos. “Tentativas de suicídio consumado aumentam com a idade, tornando-se comuns durante a adolescência”, explica a psiquiatra Viviani Colmanetti. ”A baixa incidência do suicídio em crianças está relacionada a maior dificuldade de acesso a métodos letais e imaturidade cognitiva”.

3. Quais são os fatores que aumentam o risco de suicídio entre crianças? 

A principal causa do suicídio na infância e na adolescência, assim como no adulto, são transtornos psiquiátricos não identificados ou não tratados precocemente.  Os transtornos mentais mais comumente associados ao comportamento suicida são: depressão, mania ou hipomania e transtornos de conduta.

Além de problemas de saúde mental, são fatores de risco para as crianças:

– Histórico familiar de suicídio.
– Ambiente familiar hostil, onde a criança não se sente segura, não há diálogo, e faz com que ela se sinta inadequada.
– Cobrança em excesso e falta de perspectiva de futuro.
– Ser vítima de violência física, psicológica ou sexual.
– Ter um dos pais que sofra de doenças mentais ou físicas, dependente químico ou tenha falecido.
– Fácil acesso a armas de fogo.

4. Se os pais temem que a criança esteja pensando em suicídio, como conversar  sobre o assunto? 

Sim. Procure um lugar tranquilo e reserve um bom tempo para conversar com a criança sobre o assunto e verdadeiramente escutá-la. Tente identificar o que está motivando os pensamentos negativos, sem culpar a criança nem fazer julgamentos morais. “Sempre é aconselhável abordar diretamente o tema, sem preconceito ou julgamentos”, afirma a psiquiatra Viviani Colmanetti.

Durante a conversa é importante oferecer acolhimento também através do toque com um abraço ou carinho que demonstre apoio. Se notou mudanças no comportamento do pequeno, a conversa pode começar por aí: “Percebi que agora você passa muito mais tempo sozinho no quarto, o que está acontecendo?”. Caso tenha ouvido a criança expressar o desejo de morrer, também é possível questioná-la diretamente: “Você disse que não queria mais viver. Já pensou alguma vez em se machucar?”.

Por mais que seja difícil, é importante que a família ofereça apoio para a criança ao notar os sinais de alerta. “Muitos adultos pensam que uma criança, que ‘só estuda’ e não tem responsabilidade financeiras, não tem motivo para sofrer”, diz a psicóloga Daniela Prestes. “Isso acaba abrindo espaço para mais sofrimento, que pode se tornar insuportável. É essencial validar o que os pequenos estão sentindo e realmente ouvi-los.  Uma das características desse sofrimento é a ambivalência. A pessoa muitas vezes também quer ser salva. Para ela, essas ideações não são da morte, mas do fim do sofrimento. A família pode mostrar que, para isso, ela não precisa morrer, existem outros caminhos em vida e maneiras de lidar com essas emoções”.

5. Se a criança revelar que está tendo pensamentos suicidas como os pais devem agir?

Demonstrar empatia, colocar-se no lugar da criança e se mostrar disposto a ajudar e apoiar sem julgamentos, fortalecendo o vínculo com base na confiança. Além disso é importante procurar um profissional qualificado, pediatra, psicólogo ou psiquiatra, para realizar uma avaliação diagnóstica e recomendar o tratamento necessário para o caso, que muitas vezes envolve uma equipe multidisciplinar. O acompanhamento adequado é essencial para ajudar a criança e a família a passarem por esse momento.

 

Fonte: Setembro Amarelo: conheça os principais sinais de alerta de suicídio entre crianças – Revista Crescer | Saúde (globo.com)