Artigo
Flamboyant e Acácias
O fim de mais um ano se aproxima. Com a passagem do tempo, fico em dúvida se realmente o vivi ou simplesmente contei os dias.
Por: Sergio Damião em 15 de outubro de 2025
O fim de mais um ano se aproxima. Com a passagem do tempo, fico em dúvida se realmente o vivi ou simplesmente contei os dias. Sendo verdadeiro, se aproxima meu terço final de anos de vida na terra – o qual nunca saberemos o quanto durará. A sabedoria nos ensina a aproveitar os dias restantes da convivência física. Em fim de anos, apesar de todas as festas e da aparente alegria, apesar de tudo, não sei explicar, mas, a melancolia se aproxima. No último final de semana estava na praia de Itapoã, Vila Velha, município Canela verde. No céu, as nuvens escuras me assustaram e desisti de caminhar pelas areias da praia. Desiludido, voltei a Cachoeiro. No caminho, o vento ia afastando as nuvens e mostrava um lindo campo ensolarado. Com o passar do tempo confirmei: nem sempre o que se anuncia se concretiza. Pensei em algo difícil de vivenciar: não devemos sofrer por antecipação. Não devemos deixar nossos receios e medos aflorarem. Mais de meio século de vida foi preciso para a observação. Fico com a impressão que, ainda assim, não será suficiente para mudar meu comportamento e sentimentos. Para desfazer a tristeza e aproveitar o restante da manhã do domingo, lembrei que estava na primavera, logo teremos o florescer de árvores e campos verdes. No campo, junto à BR 101, vou poder admirar o Flamboyant. Apesar de todo perigo das curvas das nossas rodovias, o vermelho das suas flores e a negritude das nuvens passadas me lembrou Stendhal e o seu clássico: O Vermelho e o Negro. A história se passa no século XIX, a paixão descrita no livro me deu a certeza de que o mundo é movido pelos apaixonados. Paixão dos enamorados, pelo livro, pela ciência, pelas artes, música, esporte, natureza e animais. Paixão pela vida. Ao atentar às coisas da natureza, na sutileza das árvores e no campo, fui assistindo um início de fim de ano promissor. Diferente dos meus sentimentos e lembranças. Algo para a liberdade. Uma liberdade de anos vividos e do dever cumprido. Livre por momentos. O bastante para a manhã. Nos próximos meses aproveitarei a beleza do Flamboyant. Seja na BR 101 ou na rodovia Cachoeiro-Safra. Além do vermelho do Flamboyant teremos o amarelo das Acácias. A Acácia nos traz toda mística do Egito antigo, árvores sagradas, sua mística permaneceu com os Hebreus e Árabes. A magia da flor amarela só não é maior que o vermelho do nosso Flamboyant, eternizada por Raul Sampaio em Meu Pequeno Cachoeiro.