Crônicas

Coração que sangra

O título é uma metáfora, com ele tento exemplificar como andam meus sentimentos. Numa quarta, com consulta marcada no Rio, recebi vários recados de pessoas preocupadas com minha segurança, numa cidade em guerra.

Por: Marilene Depes em 13 de novembro de 2025

O título é uma metáfora, com ele tento exemplificar como andam meus sentimentos. Numa quarta, com consulta marcada no Rio, recebi vários recados de pessoas preocupadas com minha segurança, numa cidade em guerra. As notícias eram assustadoras, porém a realidade entre a ponte Rio/Niterói até a Barra da Tijuca era outra, presenciei muito policiamento nas ruas. No dia anterior, houve uma ação policial nos Complexos do Alemão e da Penha, com uma média de 60 mortes de bandidos, de quatro policiais, apreensão de centenas de fuzis, prisão de centenas de envolvidos no tráfico e transferência de alguns presidiários de alta periculosidade para presídios fora do Rio.

A TV do consultório médico reportava um número em dobro de mortes, todos emboscados no meio da mata e já apresentava os corpos esticados na rua. A visão era de um campo de guerra e assustadora. Não julgo nada nem ninguém, exponho os meus sentimentos imaginando o desespero dos bandidos tocaiados para morrer. Imagino a dor das mães que não puderam acompanhar o crescimento e aliciamento dos filhos pela bandidagem, tendo que sair de madrugada para trabalhar e dar condições de vida a esses filhos.

Acompanho há anos o crescimento das favelas, por uma população que se desloca de seus Estados de origem, buscando melhores condições de vida. Sempre questionei a ausência efetiva do Poder Público nos referidos locais – que carecem de creches que possibilitem o trabalho dos pais, de escolas integrais e profissionalizantes para os jovens, de saúde pública efetiva que forneça métodos anticoncepcionais, de segurança pública também efetiva e constante, de fiscalização da Prefeitura impedindo construções ilegais, de projetos sociais bancados pelo empresariado, alguns já realizados por artistas e jogadores de futebol, oferecendo possibilidades aos jovens para que possam vivenciar experiências exitosas através do esporte, da música, entre outros. Ainda tenho esperança da situação atual das favelas brasileiras ser revertida, pela vontade política, inteligência e planejamento. Como cristã acredito que todo ser humano nasce à imagem de Deus, e cresce e se perde em consequência do meio. E que todo ser humano merece viver e morrer condignamente.