Artigo
Natureza humana
Encontrava-se sozinho. Não se sentia solitário. Gostava da solidão. Momentos que organizava pensamentos. Coisas vividas e as que estavam por viver.
Por: Sergio Damião em 19 de novembro de 2025
Encontrava-se sozinho. Não se sentia solitário. Gostava da solidão. Momentos que organizava pensamentos. Coisas vividas e as que estavam por viver. Momentos passados e presentes. Momentos do seu futuro. De repente esqueceu-se dos pensamentos, passou a observar a cidade à sua frente. O sol projetava-se sobre a varanda do apartamento. Admirava a ausência de nuvens no céu. Os raios solares cobriam seu corpo, o suor escorria pelo tronco. Sentia-se bem, a luminosidade daquela manhã o surpreendia. Na véspera, no fim de tarde do sábado, enquanto caminhava à beira do rio, no escurecimento repentino, com o término do dia precoce e instantâneo, também o surpreendera. Na verdade não era a natureza diferente, era ele. Nos últimos meses, desde o sumiço da Márcia, observava melhor os detalhes do dia, da noite… Procurava explicações para as coisas da vida amorosa. Uma busca inútil, concluía. Os fatos e coisas da paixão, apenas acontecem. Permanecia na sacada do apartamento. Não se importava com a intensidade do sol. Desejava o calor que ele oferecia. Sentia-se agraciado. Pensou em Márcia. Não aguardou o fim dos seus pensamentos e as conclusões do raciocínio. Sofreria uma dor desnecessária. Melhor não pensar. Seriam lembranças doloridas. Esquecer era a melhor forma para sobreviver ao fim da paixão amorosa. O pensamento insistia em retornar. No vazio dos instantes, buscava justificativas para o desaparecimento dela. Quantas paixões amorosas podemos viver na vida adulta? Respondia para si e de pronto: uma. Todas as outras sensações amorosas careciam da paixão, acreditava. Sentia pena daquele que nunca se aventurou nos riscos de uma paixão. Aquele que nunca sentiu a dor que ele sentia. Quem nunca sentiu esse desejo, nunca viveu a verdadeira experiência humana, concluiu. Ele se surpreendia com os pensamentos. Com o turbilhão de ideias e desatinos que se apoderava de sua mente. Porém, não eram suficientes para esquecer Márcia. Pelo contrário, mesmo não querendo, crescia a vontade de revê-la. Mesmo sabendo que assim como aparece, a paixão desaparece, sem deixar vestígios. Os impulsos gradativamente cedem à razão. Uma dupla via: desejo e razão. Lembrou a primeira vez que a encontrou. Desde o primeiro instante, no primeiro olhar, buscou a chama da paixão. A natureza humana se assemelha às forças da Terra. Naquele instante, desejou retornar ao pó da Terra. Ao inicio e fim de tudo.