Crônicas
Adequar para sobreviver
Aposentadoria não é a meta de vida para quem sempre trabalhou, e naturalmente sai de casa para exercer alguma função, remunerada ou não.
Por: Marilene Depes em 11 de maio de 2020
Aposentadoria não é a meta de vida para quem sempre trabalhou, e naturalmente sai de casa para exercer alguma função, remunerada ou não. Habituada a muita atividade, em quarentena sinto-me um pouco perdida, e para preencher o vazio entro nas redes sociais, acesso um grupo, respondo outro, leio os twitters, abro as notificações no facebook, leio o jornal, escrevo, vejo filmes, faço ligações de telefone ou vídeo para familiares e amigos, evito ver as notícias na TV, abro um livro e nele não evoluo e por aí vai. E pensei até em sair do facebook, pelo excesso de conteúdo exposto – tipo fotos da viagem sei lá onde, de casais provando a não sei quem que se é muito feliz, da mesa farta, com a comida sei lá qual, num tempo de tão pouco. Todo exagero me cansa e habitualmente também não tiro fotos – até aprecio as antigas ou aquelas que contam histórias, daí comecei a pensar que havia chegado a hora de me afastar. E nem cito as enxurradas de vídeos e de áudios, os quais abro apenas o que considero essencial, exercendo seleção natural. Mas fiquei surpresa com o face, onde posto minhas crônicas semanalmente, e os amigos são livres para ler ou não, e que curto bastante quando comentam. Descobri nele um mundo de pessoas que partilham experiências interessantes, hobbies, brincadeiras, sugestões de filmes, músicas, receitas, convites para eventos e muito mais. Como estou com todo tempo do mundo entro em tudo, virei uma entusiasta do ócio sem objetivo. E numa brincadeira aconteceu o inesperado. Foi sugerido postar, no meu status, uma lembrança que tiveram comigo na vida e fiquei surpresa com o resultado. Surgiram amigos da juventude, da rua em que vivi a infância, do sítio na roça, do Liceu onde estudei e trabalhei, do namoro, do casamento, dos locais de trabalho, dos movimentos da igreja, do carnaval, de inúmeros ex-alunos, da Vila Aconchego, das festas, dos cursos de línguas, da dança, das academias de ginástica e de letras, das crônicas na imprensa, do programa na TV, dos grupos afins, das faculdades, dos vizinhos, enfim, foi uma brincadeira que me tocou profundamente trazendo memórias que me fortaleceram muito – a história da vida com fatos e pessoas perdidos no passado, e que estão me ajudando a atravessar essa pandemia mais levemente. As redes sociais, se bem utilizadas, são excelentes ferramentas, e como bem dizia Chacrinha: Quem não se comunica se trumbica!