Crônicas

Ainda estou aqui… com lágrimas

Antes, quero dizer, que será a maior injustiça se Fernanda Montenegro não for agraciada com o prêmio Nobel.

Por: Wilson Márcio Depes em 27 de novembro de 2024

O filme “Ainda estou aqui” mexe com minha vida em todos os sentidos. Sou dessa época, quando a ditadura era implacável. Antes, quero dizer, que será a maior injustiça se Fernanda Montenegro não for agraciada com o prêmio Nobel. Ela e sua filha Fernanda, seria mais que justo, justíssimo. Mas, voltando ao filme, ele mexe com todas as minhas emoções que ficaram adormecidas (?) desde o período da ditadura militar. Ainda estou aqui?

Mais um motivo relevante. Sergio Bermudes, nosso amigo e consultor do escritório, advogado mais importante do Brasil, é pessoa fundamental no episódio Herzog. No início de sua carreira, na década de 1970, Sergio patrocinou a causa da viúva de Vladimir Herzog, quando a ditadura se viu pela primeira vez derrotada no Judiciário, que reconheceu que o jornalista fora assassinado quando estava sob a custódia do Exército. “O senhor foi o autor da petição inicial do caso Vladimir Herzog? Pelo que consta, veio do senhor a ideia de propor uma ação civil pedindo que o Judiciário reconhecesse a responsabilidade do Estado pela morte dele”.

Em entrevista, melhor que eu, Sérgio explica que “a família Herzog não queria que eu propusesse uma ação de indenização. A viúva, Clarice, e os dois filhos, André e Ivo, não queriam que alguém pensasse que estavam querendo extrair dinheiro do sacrifício do marido. Normalmente as pessoas lembram de mim quando falam nesse caso. Eu formulei a petição inicial e muitas vezes sou aplaudido por isso, mas quem tem que ser aplaudido é o Judiciário. O juiz Márcio José de Moraes estudou o processo e disse à mulher que ela tinha o direito de pedir que ele se exonerasse da magistratura, mas não que mudasse de convicção, violentasse a própria consciência. Ela disse que estava do lado dele, e Márcio José proferiu a sentença”.

Hoje o filme, emocionante, baseado no livro de Marcelo Rubem Paiva, me faz sair do cinema em lágrimas, por tudo que vi, que fui e que sou. Ou serei.