Crônicas
Cachoeiro com casas bancas
A Festa de Cachoeiro sempre foi diferente das outras festas que tenho visto por aí. Na terra de minha mãe, Leopoldina (MG), a festa durava o mês inteiro.
Por: Wilson Márcio Depes em 16 de junho de 2025
A Festa de Cachoeiro sempre foi diferente das outras festas que tenho visto por aí. Na terra de minha mãe, Leopoldina (MG), a festa durava o mês inteiro. Era a famosa Exposição. Aqui, pelo que vejo, a partir de agora vai entrar em campo o bairrismo. Rubem Braga, em meu livro de Fotocrônicas I, disse que “Cachoeiro é uma cidade como as outras. Só que é Cachoeiro, e isso tem demonstrado ser uma impressionante singularidade. Algo especial existe aí, por essas ruas, e pontes e curvas do rio. As pessoas que não são de Cachoeiro é que dizem isso, e perguntam o que há. Não há nada. É Cachoeiro. E Cachoeiro é assim.”
Curioso é que do mesmo jeito que o cachoeirense se preocupa com o baile a rigor, se inquieta também com a festa da Praça Vermelha. Não estou fazendo qualquer tipo de comparação, mas o que acho curioso é que a programação faz parte das exigências do seu modo de ser, ansioso pela confraternização. Um velho professor, depois de muito analisar, me dizia que o cachoeirense é fraternal pela própria natureza. Só se distanciava na disputa eleitoral. Neste momento ele se afastava, até mesmo para evitar um desgaste. Passada “a refrega eleitoral”, ele voltava a ser o amigo de sempre.
Fico me perguntando se, com tantas mudanças no mundo, como a internet, as redes sociais, por exemplo, ele continua o mesmo em relação à Festa de Cachoeiro. Ainda faz o mesmo sentido? Prometo que vou observar. Lembrei agora que, lá atrás, bem lá atrás, as pessoas pintavam suas casas, neste mês de junho. Eu não entendia a razão. Depois minha mãe, que não era cachoeirense, me explicou que os prefeitos e a Câmara Municipal resolveram não cobrar qualquer tributo para quem embelezasse a sua casa, em homenagem à festa. Uma boa estratégia para ver a cidade mais bonita.
Que me perdoem a emoção. Mas me lembrei de Dostoievski, “Noites Brancas”: “As casas também são minhas conhecidas. Quando passo, cada qual parece correr ao meu encontro na rua. Olham-me de todas as janelas e me dizem ou parecem dizer: Bom dia! Como vai! Eu vou bem graças a Deus. No mês de julho vão me por mais uma andar”.