Crônicas

Carta amiga

A amiga, que está morando em São Paulo, sente falta e escreve. “(...) Que silêncio longo.

Por: Wilson Márcio Depes em 15 de outubro de 2025

 

A amiga, que está morando em São Paulo, sente falta e escreve. “(…) Que silêncio longo. Ora, estão acontecendo coisas, estou aqui para falar da mudança permanente, nos quadrantes A, B, C, D. Soube, pelo Pondé, que estamos vivendo num país ou no mundo em que a vaidade moral, mentir e egoísmo são valores no século 21; ter filhos, não”.

Pergunta: “a Maria não lhe deu a notícia? Aliás, a grande notícia: o nascimento da menina – forte, gorda e linda. É o que eu lhe digo: a vida é otimista, o novo irrompe forçando as categorias vigentes. Digo mais: vem aí uma revolucionária partejando o futuro. E você? Como vai? Tô sabendo que você anda preocupado comigo. Não fique assim. Tá tudo bem aqui. Há, somente, a rigor, duas mãos e o sentimento do mundo”.

A carta me enternece. Prossegue com seu eterno otimismo: “De repetente, meu caro, a mudança e a caridade passam a ser uma palavra só. Como eu sempre lhe disse, o velho sonho começa a ser real. O grande pecado hoje em dia é o mundo louco. Sabe, outro dia, me pediram para escrever um texto sobre Tristão de Athayde”. (Esclareço ao leitor mais jovem: Alceu Amoroso Lima, também conhecido como Tristão de Athayde, foi um dos principais intelectuais brasileiros do século XX. Crítico literário, ensaísta e professor, transitou entre a ciência e a religião, entre a crítica e a produção artística, e entre a política e o ensino. Fecho).

Dá uma volta ao passado para, naturalmente, fazer uma comparação com o presente. Diz mais a deliciosa carta. “Fiquei muito feliz. A vida de Tristão de Athayde, em síntese, consistiu, sem metáfora, numa laboriosa, generosa e sofrida construção que ele fez de sua própria juventude. Aliás, jovem é aquilo que é pleno e vigoroso. Passou a vida lutando – como um campeão. Era um ser diferenciado, assinalado, que soube transformar a fé e sabedoria recebidas como herança numa aventura própria. A prova disto estava na capacidade de amar ao Próximo e de servi-lo”.
Por fim, quero dizer “que o relâmpago de eternidade capaz de aparecer no tempo só fulgura através da presença carnal do Outro, em suas alegrias e sofrimentos. É, principalmente, no amor ao ser humano que sofre que se pode distinguir a marca do cristão autêntico”. Até breve.