Crônicas
Celebrar a vida
O primeiro e mais arriscado é retornar à adolescência, tentando curtir ao máximo os anos que lhe restam, entre amores, viagens e novas experiências
Por: Marilene Depes em 11 de dezembro de 2023
Quando jovem vive-se tão intensamente o hoje como se não houvesse amanhã. O adulto curte um dia após o outro, enfrentando desafios e vencendo etapas. Já o idoso, dependendo de sua experiência de vida, pode escolher três caminhos. O primeiro e mais arriscado é retornar à adolescência, tentando curtir ao máximo os anos que lhe restam, entre amores, viagens e novas experiências, representando a maior fonte de renda para hotéis e agências de turismo. Ou se aposenta, senta-se diante da televisão, abandona a vida social, perde os amigos e se nega a estabelecer novas afinidades e novos desafios, e no máximo frequenta a igreja e a padaria da esquina. O terceiro perfil é daquele que continua ativo, reconhece que as atividades física e mental o mantem lúcido, cuida da saúde e alimentação, é independente e cultiva uma rede social com amigos antigos e agrega novos.
E no terceiro perfil, felizmente, se enquadra o meu parceiro de vida. Nos conhecemos ainda adolescentes, nos apaixonamos e decidimos que o casamento e a constituição de uma família era o nosso objetivo. Não traçamos metas, havia apenas o desejo de ficarmos juntos. Às vezes ainda me pergunto como deu certo uma relação entre duas pessoas tão diferentes, mas com o passar dos anos fui percebendo que as diferenças foram se amenizando, devido ao desejo de ser e fazer o parceiro feliz.
Ah, o tempo! Os anos em comum, as alegrias e dores de uma longa vida juntos só vão estreitando os laços. As doenças e o risco da perda aumentam ainda mais o desejo de uma convivência fraterna e harmoniosa. Por que perder tempo com desentendimentos, se nosso tempo pode ser só o hoje?
Numa relação cada um ocupa seu espaço, o meu é o de cuidados com a saúde e bem-estar, o dele é de me proporcionar pequenas alegrias como uma geladeira repleta de frutas, ou grandes alegrias como segurança e garantia em me sentir protegida e amparada, não só eu como toda família. Cada um com seus defeitos, mas cada um com qualidades admiráveis e em comum.
E o amor de minha vida completou 80 anos, e aos meus olhos tão lindo e charmoso como sempre. E resolveu comemorar, pela primeira vez na vida, com uma grande festa repleta de familiares e amigos. Finalmente entendeu que estar vivo é um privilégio! E para ele dediquei a música da qual partilho um trecho: “Eu vou cuidar de você, todo dia, toda hora e todo momento, você jamais vai duvidar do meu sentimento, é de dar inveja um amor assim…”