Artigo
Cuidados
Quem cuida, e se deixa tocar pelo sofrimento humano, torna-se um radar de alta sensibilidade.
Por: Sergio Damião em 6 de abril de 2020
A essência do cuidar é buscar a compaixão (sentido de se colocar no lugar do outro). Devemos lembrar que somos humanos e assim: Vulneráveis. Guimarães Rosa, médico e escritor mineiro, disse: Viver é perigoso. Perigo de adoecer, de fracassar e de morrer. Viver humanamente significa viver sabiamente na vulnerabilidade (sermos resilientes). Vulnerabilidade possibilita a grandeza de cuidar e a humildade de se deixar cuidar. Susan Sontag escreveu: “A enfermidade é o lado obscuro da vida, uma cidadania mais cara. A todos, ao nascer, outorga-nos uma dupla cidadania, a do reino dos sãos e a do reino dos enfermos. E ainda que prefiramos usar o passaporte bom, cedo ou tarde cada um de nós se vê obrigado a identificar-se, pelo menos por um tempo, como cidadão daquele outro lugar.” Trata-se de um grande desafio aliar ética, técnica e ciência para cuidar do sofrimento humano. Quem cuida, e se deixa tocar pelo sofrimento humano, torna-se um radar de alta sensibilidade. Esses cuidados levam em consideração aspectos físicos, emocionais, familiares, sociais e espirituais. Newton Braga, nosso melhor poeta, escreveu: “Esta sensibilidade que é uma antena delicadíssima, captando pedaços de todas as dores do mundo, e que me fará morrer de dores que não são minhas.” Viajar é uma das boas coisas da vida. Sempre guardamos boas lembranças. Evoluímos culturalmente. Outros momentos acontecem o inusitado. Nos tempos atuais, tempos de pandemia, do Covid-19, tempos de isolamento social, de fronteiras fechadas por ar, mar e terra, resta-nos o Lar, a TV e o Livro. Para nós profissionais da saúde o dever de cuidar e as lembranças… Dos pacientes, lembro um renal crônico, realizava hemodiálise, era professor de filosofia, conversávamos frequentemente, gostava de Camus (dizia, pronuncia-se “Cami”), eu recebia incentivo para a leitura de A queda, O Mito de Sísifo e A Peste. O mais emblemático para os nossos tempos é o último (uma cidade sitiada pela doença), a primeira pandemia que a humanidade vivenciou. Uma cidade e as várias reações humanas em uma quarentena. Mas, o livro que me marcou foi A queda (Ele dizia: é sobre a ausência de sentimentos, fala sobre a indiferença e o vazio humano).