Cotidiano

Culpa X Pandemia: Estou sendo produtivo o bastante?

Há alguns meses você pedia um pouco de tempo para conseguir colocar a sua vida em ordem. Então, surge uma pandemia. Agora, você está em casa. Mas, mesmo assim, tudo aquilo que gostaria de realizar ainda parece distante.

Por: Redação em 6 de agosto de 2020

Há alguns meses você pedia um pouco de tempo para conseguir colocar a sua vida em ordem: começar aquele curso, ler alguns livros ou conseguir arrumar o quartinho da bagunça. Então, surge uma pandemia. Agora, você está em casa. Mas, mesmo assim, tudo aquilo que gostaria de realizar ainda parece distante. E não importa o que faça, você sente que não é o suficiente. Afinal, está trabalhando home office, como não consegue dar conta de tudo? Se esse sentimento de culpa na pandemia te acompanha, saiba que você não está sozinho. Que tal pegar leve com você?

 

Culpa na pandemia

Você sempre foi cobrado a entregar mais em menos tempo, a fazer melhor com menos recursos, a trabalhar com aquilo que tem. Por isso, estar em casa não mudaria essa necessidade. Mas não estamos em um momento qualquer.
Vivemos em uma sociedade que impõe um ritmo acelerado de viver, cujo pensamento é sempre voltado para o que ainda não fizemos e teremos que fazer no dia seguinte. Dessa forma, nada parece ser suficiente.

Esse sentimento de que não estamos dando conta é antigo e só cresce com a quantidade de cobrança que recebemos de todos os lados. Você tem à sua disposição muita tecnologia e informação, então deve produzir. Faltava tempo, mas a pandemia colocou isso em cheque. Afinal, agora, em casa, todos devem ter tempo de sobra. Só que não funciona bem assim.

Mas não falamos apenas de trabalho.

A necessidade de cumprir tarefas vai além, como manter a casa limpa, se exercitar, manter a alimentação equilibrada, treinar, cuidar dos filhos, desenvolver novas habilidades.

Essa cobrança, ao que tudo indica, pode estar ligada às relações de trabalho que vivemos, nas quais prevalece a exigência de que se produza incessantemente e de maneira crescente. Nós deveríamos debater essa cobrança de maneira ampla, sobretudo em meio ao grave problema de saúde pública que estamos testemunhando.

A manutenção de certos tipos de cobranças, sem a promoção das devidas adequações em meio à pandemia, é um elemento que deveria saltar aos olhos, porque deixa clara a prioridade aos lucros não à saúde das pessoas.

Culpa X pandemia: estamos fazendo o bastante?

A ideia de produtividade nos acompanha desde antes da pandemia, como um reflexo de uma sociedade capitalista, em que você é aquilo que produz (você já deve ter lido isso em algum livro de história). Mas, aparentemente, por estarmos em casa, essa pressão se intensificou.

Criou-se uma falsa verdade, como se a gente não estivesse enfrentando um momento de mal-estar geral. Devemos dar conta de tudo só pelo simples prazer de estar em casa, sem pensar em todo desconforto que temos ao ver tantas mortes.

O que é ser produtivo?

De modo geral, o que você considera como um dia produtivo pode ser diferente do que o seu vizinho, ou colega de trabalho, considera. O sentimento de culpa e essa sensação de não estar fazendo o suficiente aparece, justamente, quando você tenta atingir esses supostos parâmetros de produtividade. A culpa está associada a um ideal. Sempre que a gente dialoga com o ideal, estamos aquém dele, porque ele está em um patamar e a gente em outro.

Produtividade X pandemia

Todos os afazeres a mais que a pandemia criou estão nos fazendo sentir vergonha de não dar conta
Vamos lembrar de uma coisa muito importante: estamos vivendo no meio de uma pandemia. De uma hora para outra, ficar em casa não é mais uma opção — apenas — para descansar ou relaxar a mente, mas a melhor maneira de manter a própria vida em segurança e o seu trabalho em dia.

A maior parte das populações precisou modificar suas rotinas para, rapidamente, se ajustar às novas estruturas e aos novos ambientes de trabalho, espaços e momentos de lazer. Tudo isso, a fim de conter a disseminação do coronavírus. Essas modificações, no entanto, pedem elaboração e tempo, o que não temos em um momento como este, em que somos intimados a responder muito prontamente às demandas sociais e pessoais sem considerar devidamente os nossos próprios limites.

Em resumo, temos uma uma crise sanitária, então o agravamento da crise economia (desemprego, salários reduzidos, sobrecarga de trabalho) e, por fim, ainda precisamos lidar com o acúmulo de tarefas domésticas e as relações familiares. Enfim, são elementos suficientes para nos sentirmos ainda mais pressionados.

Culpa X pandemia: como lidar com o sentimento

Pegue leve com você
Em primeiro lugar, entenda que você tem limites e respeite eles. Aceite a sua vulnerabilidade. Todos nós temos limites e, em algum momento, poderemos falhar.

Faça o melhor que puder
Ser produtivo não é, necessariamente, realizar por completo todas as atividades propostas, mas se empenhar ao máximo para a realização delas. Esse pode ser um bom ponto de partida para reorganizar a sua rotina.

Entregue o que conseguir
Ser produtivo é “fazer o máximo possível dentro do prazo estabelecido, mesmo que não fique da maneira como imaginava”. Já ouviu falar que um treino feito é melhor do que um treino perfeito? É isso.

Ninguém é infalível
Conforme-se de que nem sempre será possível atingir as suas expectativa ou as dos demais. Estamos tentando sobreviver a uma tragédia de proporções globais. Você está vivo? Até aqui você conseguiu. Vamos lembrar do óbvio: somos humanos, somos falíveis, somos limitados, mas podemos continuar tentando.

Saiba usar as redes sociais
Ver pessoas compartilhando o diploma de mais um curso que concluíram ou o final de mais um treino te inspira ou te desanima? Filtre o que te faz bem e evite se deixar levar pelas aparências. Lembre-se que dificilmente as pessoas vão publicar fotos ou vídeos de um dia difícil.

Seja legal com as pessoas
Não apenas compartilhando objetos ou alimentos, como também respeitando e entendo as limitações dos demais. Coloque-se no lugar no outro. Solidariedade se desenvolve quando permitimos que a dor e a dificuldade do outro fale com a nossa dor e a nossa dificuldade.

Relaxe e pare de se cobrar tanto
Talvez você já tenha ouvido falar do mindfulness, a prática de se manter — e viver — o momento presente. Em dias de tantas incertezas como os que estamos vivendo, pensamentos de angústia e ansiedade podem se tornar mais presentes, então saber lidar com eles pode fazer a diferença para uma rotina mais leve.

Separamos alguns conceitos e práticas de mindfulness que podem te ajudar a ter uma vida mais leve no meio dessa pandemia — e fora dela também.

Pratique a autocompaixão
Pare de se punir! “Não consegui fazer essa planilha, como sou burra”, “Estou feia”, “Eu engordei, que ódio”, você falaria assim com uma amiga? A neurociência explica que a área do cérebro ativada quando dizemos isto a nós mesmos é a mesma de que quando somos xingados por outra pessoa. Então, por favor, seja mais gentil com você mesma.

Exercite a gratidão
A gratidão aumenta a produção de hormônios do bem-estar e deve ser exercitada.
A proposta é fazer um diário da gratidão: todos os dias, antes de dormir, escreve cinco coisas pelas quais você é grata. Talvez você tenha conseguido beber mais água ou tenha tido uma boa conversa com um familiar ou colega de trabalho, escreva e guarde essas lembranças.

Comece a meditar
A meditação aumenta a capacidade de foco quando executamos atividades diárias.
Dica: existem aplicativos de meditação que podem te ajudar, como Insight Timer. No Instagram, o perfil de Tadashi Kadomoto, que já ultrapassa o número de 1 milhão de seguidores, compartilha dicas e realiza lives de meditação guiada. Vale a pena conhecer — e experimentar.

Pense — com amor — no que está fazendo
Na hora de acordar, espreguice, sinta ao seu corpo. Respire fundo, agradeça por mais um dia. Ao se exercitar, preste atenção no seu corpo, no que ele é capaz de fazer. Trabalhe com gosto, com prazer. Quando for comer, preste atenção, saboreie tudo com calma e prazer.

Valorize o seu progresso
Ontem você não conseguiu fazer uma planilha, mas hoje você aprendeu e fez uma excelente apresentação. Parabéns! Talvez você não tenha tido a sua melhor aula na pós-graduação, mas você conseguiu assistir às aulas mesmo depois de um dia cheio de trabalho. Que ótimo!

Por fim, lembre-se que você está tentando sobreviver a um momento que nunca pensamos viver. Faça o melhor que puder e não seja tão dura consigo mesma. Você está fazendo o que pode para se sair bem dessa.