Artigo

Gênese feminista

Ela não entendeu nada, mas gravou. E que mulher bonita deveria pegar um espelho e se olhar por baixo para ver o quanto é feia.

Por: Marilene Depes em 22 de maio de 2023

A criança ouviu do irmão que mulher tinha que ficar sempre embaixo do homem, inclusive no sexo. Ela não entendeu nada, mas gravou. E que mulher bonita deveria pegar um espelho e se olhar por baixo para ver o quanto é feia. Anos depois, numa visita ao irmão já casado, descobriu que ele possuía uma gaveta com chave que a esposa e filhas não podiam acessar. A cunhada justificou que ali dentro ele guardava segredos de homem.

A criança se transformou numa jovem bonita e ainda adolescente foi assediada pelo dentista, pelo fotógrafo, pelo professor, e não tinha a quem recorrer, sua mãe achava que era pura imaginação. Da mãe ouvira certa vez, quando conversava com um vizinho, que moças não ficavam de conversas com rapazes no portão porque ficavam “faladas” e solteironas. E que moças direitas não usavam shorts, roupas provocantes, e blá, blá, blá…

Da irmã ouvira que homem tem um desejo muito forte por sexo, um negócio incontrolável, e que se a esposa não estava disponível para saciar o tal desejo, ele saía procurando mulher na rua. E por ela fora orientada que mulher casada tinha que ser muito discreta, não podia usar maquiagem e nem roupas provocantes, para não envergonhar o marido.

Da professora ouvira que moças não se sentavam nas janelas e nem de pernas abertas, pois estariam provocando os homens e nem era postura de moças decentes.

Da sogra ouviu que menina não podia andar nua porque o sexo das meninas era muito feio, o menino podia. E que mulher envelhecia muito mais rápido do que homem. E do sogro que mulher de calça comprida era piranha, que mulher que saia à noite para estudar estava procurando homem. E que medicina não é profissão para mulheres.

Da amiga culta ouviu que mulher usando roupas provocantes pedia para ser estuprada ao passar diante de um canteiro de obras. E de muitas outras, que os homens podiam ter quantas mulheres quisessem, mulher não, porque tinham que manter a dignidade.

Eis a gênese da mulher alienada, submissa, infeliz, recalcada e depressiva. Ou da feminista.