Artigo
Há como esperançar?
Entre pessoas que encontro no dia a dia, uma família chamou-me especialmente à atenção, um jovem senhor, a esposa, um filho e um casal de idosos, todos no mesmo veículo e dos cinco apenas a senhora idosa de máscara.
Por: Marilene Depes em 19 de maio de 2021
Entre pessoas que encontro no dia a dia, uma família chamou-me especialmente à atenção, um jovem senhor, a esposa, um filho e um casal de idosos, todos no mesmo veículo e dos cinco apenas a senhora idosa de máscara. Cobrei a máscara, pois no local em que nos encontrávamos, mesmo à distância, ela era indispensável. Deram uma desculpa, perguntei se o casal de idosos estava vacinado e desconversaram, porém a esposa já irritada informou-me que não vai tomar a vacina, que está pouco se lixando para uma doença que todos vão pegar, ainda tentei argumentar citando exemplos de outras vacinas que erradicaram enfermidades graves e desisti. O negacionista faz-me lembrar animais de carga, em que são colocadas tapa olhos para enxergarem em uma só direção. Não existe argumento que os convença, sempre possuem justificativas: fulano que está mal no hospital tomou a vacina, não importa se foi só uma dose, se contraiu a doença logo após, nada importa. Para o negacionista não existe ciência, não existem trabalhos e pesquisas cientificas, acreditam que os dados sobre a pandemia apresentados nos jornais televisivos e escritos são inventados, somente o que está no whatsapp é verdade absoluta. Questionam o aquecimento global, afirmam que a Terra é plana, não aceitam contestações e se baseiam em discursos conspiratórios que sempre favorecem grupos políticos extremistas ou radicais religiosos. Se contestamos quem os lidera, a argumentação não é a defesa deste e sim a comparação com o líder contrário, como se não houvesse vida inteligente entre um e outro.
Em minha longa vida nunca havia testemunhado tamanho radicalismo e como sou contrária a tudo isso que se apresenta, a forma que encontrei para me proteger foi apagando pessoas das redes sociais e da vida. E como o ruim sempre pode piorar, recebo mensagem com sérias recomendações e em anexo a lista de “comunistas” que não devo ouvir, ler e muito menos seguir. Faça-me o favor, o dia que eu não puder ouvir Caetano Veloso, Chico Buarque, seguir Leandro Karnal, nem ler Leonardo Boff e Luiz Fernando Veríssimo, entre outros, podem me tampar e preencher com terra.
E diante de uma CPI que busca respostas sobre as responsabilidades do quadro que se apresenta, com o povo sendo dizimado pela pandemia, e que pode revelar os erros dos governantes e sugerir acertos, e ainda salvar muitas vidas, ouvir que CPI não resolve nada, que sempre acaba em pizza, é desalentador. A pergunta que me brota da alma é: há como esperançar?