Crônicas
Inércia
Na física, resistência que a matéria oferece à aceleração. Para nós brasileiros: apatia; indolência. Fico impressionado com a passividade do povo brasileiro.
Por: Sergio Damião em 9 de fevereiro de 2024
Na física, resistência que a matéria oferece à aceleração. Para nós brasileiros: apatia; indolência. Fico impressionado com a passividade do povo brasileiro. Impressionado com a minha própria apatia, na verdade, indiferença. Fico no entorno do Itapemirim, alegre com as chuvas recentes, com o aumento do volume da água e som do nosso rio. Alegre com o retorno dos pássaros e o sol forte. Mesmo sabendo que isto tudo me parece passageiro, logo o rio voltará a me preocupar com a perda de sua força ou com enchentes repentinas. Mas nem sempre foi assim. Existem bons exemplos em nossa história. Homens e mulheres que fizeram diferença: Nize da Silveira, Ana Nery, Oswaldo Cruz, Anália Franco, Emilio Ribas, Adolfo Lutz, Bernardo Horta… Há mais de cem anos, Pereira Passos refez a cidade do Rio de Janeiro, era a capital do Brasil, começava um novo século, o século da nossa República. Criou novas avenidas, derrubou cortiços, construiu áreas no entorno do Porto, modernizou a cidade. Unia nova arquitetura nos moldes parisienses. Iniciou a cidade maravilhosa, juntou belas artes à natureza. Na ocasião, convidou Oswaldo Cruz, um jovem médico sanitarista, conhecedor das doenças infecciosas. Pereira Passos, político e modernizador, sabia que precisava intervir, além da arquitetura, na higiene pública. O Rio de Janeiro era infestado pelo mosquito atual – Aedes aegypti, na ocasião transmitia a febre amarela. As pessoas morriam, além da febre amarela, pela varíola e a peste. O mundo inteiro, devido nossas condições higiênicas, se afastava de nossas cidades, em especial do Rio de Janeiro. A determinação de Oswaldo Cruz livrou o Rio de Janeiro da varíola e febre amarela. Durante suas ações sofreu todo tipo de constrangimento e uma das maiores revoltas da nossa história: Revolta da Vacina. Suas ações foram reconhecidas internacionalmente anos depois. Além da apatia, possuímos perda de memória. Vivemos de emoções e ilusões. Esquecemos o que Oswaldo Cruz realizou há mais de cem anos. Durante longo tempo, o mosquito Aedes aegypti desapareceu de nossas cidades. Pela falta de higiene pública, obras e cuidados de saneamento básico não realizado pelos governantes, pela nossa falta de comprometimento com a limpeza pública, vivemos momentos de temor. Aliado a isso, a corrupção endêmica e incompetência de governos na condução dos rumos do Brasil, nos leva a apatia e tristeza imensa. Apresenta-se o ano novo que nos força a reagir.