Crônicas

Jabuticabeira

A jabuticabeira, nome de origem Tupi, logo que a vi, era noite, lembrava um produto ornamental, feito para enfeite de Natal, retornei em dia claro e percebi a presença de pequenos pássaros, eles sabem onde existe vida, coisas da natureza, ficavam junto das folhas, não havia frutos, não havia...

Por: Sergio Damião em 13 de janeiro de 2020

Em meio aos arranha-céus ela floresceu. Algo incomum para uma árvore silvestre. Ainda mais em uma cidade de paredões de pedras. Talvez por isso, as pessoas se aglomeravam em sua volta, em mesas, sentados ou em pé, rendiam reverências à grande árvore. Uma grande copa. Fica em um bar (restaurante), apresenta-se levemente escondida, bem no fundo, mesmo assim, motivo de orgulho para funcionários da casa. Os garçons incentivam a visita para os clientes desatentos. Coisa rara na cidade de São Paulo. Algo em extinção. Creio eu que, o motivo da preservação, se deva à proximidade do Parque Ibirapuera, influência de outras árvores, e jardins, e lagos do parque paulistano, ou ainda, das ruas do bairro Moema, a poucos metros dali, das ruas que trazem nomes e lembranças de pássaros e temas indígenas. Nomes que Mário de Andrade catalogou e incentivou na década de trinta do século passado, quando da sua passagem pelo Departamento de Cultura Paulista. A jabuticabeira, nome de origem Tupi, logo que a vi, era noite, lembrava um produto ornamental, feito para enfeite de Natal, retornei em dia claro e percebi a presença de pequenos pássaros, eles sabem onde existe vida, coisas da natureza, ficavam junto das folhas, não havia frutos, não havia… Os pássaros não pareciam se importar, buscavam os alimentos em outro lugar. Acho que migravam do Ibirapuera, a jabuticabeira entre os prédios era seu repouso, um oásis no deserto de cimento. Quando deixei o local, encontrei ruas reservadas para ciclistas e uma feira com frutas, verduras e legumes próximos a uma Avenida movimentada com centenas de carros (São Paulo surpreende a cada esquina), descobrimos uma cidade se metamorfoseando a cada instante quando caminhamos pelas suas ruas. Fiquei intrigado com a jabuticabeira, uma árvore frutífera no bairro Vila Nova da Conceição, o metro quadrado mais valorizado de São Paulo. No bairro mais luxuoso, uma árvore tão simples, tão… Contudo, apesar da importância e o simbolismo da jabuticabeira, voltei a Cachoeiro e procurei a sombra da nossa árvore (Samarina) no final da Avenida Beira-Rio. A Samarina fica ao lado do Itapemirim. Lá, uma sombra gigantesca e o vento soprando do leito do rio. Da Samarina, gosto bem mais.