Artigo
Madagascar
Da sacada do apartamento observava a Beira Rio, a avenida cachoeirense mais charmosa. Ao longe, cruzavam o rio Itapemirim três cavaleiros, montavam cavalos de belo porte.
Por: Sergio Damião em 28 de novembro de 2025
Da sacada do apartamento observava a Beira Rio, a avenida cachoeirense mais charmosa. Ao longe, cruzavam o rio Itapemirim três cavaleiros, montavam cavalos de belo porte. Porem em local inadequado. Cruzavam a ponte e invadiam a avenida, um risco para cavaleiros e transeuntes, algo frequente em fim de semana da nossa cidade. Desviei o olhar para o centro do rio e me contentei com o voo das garças. Uma dúvida se apossou de mim: a cena dos cavaleiros, que acabara de assistir, era uma cena bucólica ou um atraso social? Dias antes, em São Paulo, meu neto Bernardo dizia: Vô! Vô Sergio! Quando crescer quero conhecer dois lugares: a cidade da grande Torre e Madagascar. Deixei o pensamento dele viajar: desejava a beleza da arquitetura de Paris e as terras virgens da África. Madagascar, Ilha situada na costa sudeste da África, onde se destacam milhares de espécies animais, florestas tropicais e lindas praias… Bem próxima a Moçambique, onde encontra-se Mia Couto, destacado escritor lusófono e boa parte dos nossos antepassados. Aproveitei e contei para Bernardo: Fui ao Rio de Janeiro, visitei o centro histórico, a Lapa e os seus arcos. Falei dos devaneios de um dos nossos maiores poeta: Manuel Bandeira. Em poesia, desejou: Vou-me embora pra Pasárgada! Bem próximo a Madagascar. Lá, seria amigo do rei. E, mais: “Tomar banhos de mar! E chamar a mãe-d´água para contar as histórias que no tempo de menino Rosa vinha me contar.” Contei para Bernardo a parte boa da poesia e deixei as reflexões guardadas em memória. Nos tempos do poeta Bandeira e, bem mais antigos, como Castro Alves e Álvares de Azevedo, a melancolia ou mesmo o romantismo se devia a uma doença por vir, ou em atividade, quase sempre, a tuberculose. Hoje, a melancolia e o desejo de ausentar-se da vida diária ficam por conta da violência e mazelas sociais. Em Cachoeiro, sua praça central e seu jeito de interior, me traz a sensação do campo e do bem-estar. Dia desses estava no apartamento e ao longe ouvi o canto do Bem-te-vi, olhei pela janela e vi um dia escuro e chuvoso, pensei: difícil acreditar que a chuva passará. Pouco depois o tempo se abriu e o sol apareceu. À noite, em Vila Velha, uma lua alta e bonita refletia sobre o mar de Itapoã e deixava à vista uma pequena ilha de preservação ambiental, bem junto aos barcos dos pescadores, o que me levou a pensar em voltar pra Pasárgada tão logo amanhecesse.