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Mortes por doenças cardiovasculares no Brasil sobem na pandemia

Os dados do trabalho são interessantes nesse sentido. Em todas as capitais investigadas, o número de mortes por doenças cardiovasculares não especificadas aumentou consideravelmente. Segundo o artigo, isso provavelmente tem a ver com a falta de um diagnóstico preciso.

Por: Redação em 5 de novembro de 2020

Um estudo brasileiro mostra que as mortes por doenças cardiovasculares aumentaram significativamente durante a pandemia de Covid-19 nas seis capitais avaliadas. São elas: Manaus (AM), Belém (PA), São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Fortaleza (CE) e Recife (PE) — escolhidas por terem sido especialmente afetadas pelo coronavírus nos primeiros meses da crise atual.

A pesquisa foi realizada pelas universidades federais do Rio de Janeiro (UFRJ) e Minas Gerais (UFMG), pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e pelo Hospital Alberto Urquiza Wanderley, na Paraíba. Os dados foram extraídos dos cartórios de registro civil, por meio da Associação Nacional de Registradores de Pessoas Naturais (Arpen). Os cientistas basicamente compararam a quantidade de mortes por infarto, AVC e problemas cardiovasculares não especificados de 17 de março a 22 de maio deste ano com o mesmo período de 2019.

Manaus é a cidade que mais viu os óbitos por essas causas crescerem: 132% a mais do que no ano passado. Em seguida, vêm Belém (126%), Fortaleza (87,7%), Recife (71,7%), Rio de Janeiro (38,7%) e, por último, São Paulo (31,1%).

De acordo com o cardiologista Marcelo Queiroga, presidente da SBC, quando a pandemia começou, verificou-se uma redução nos atendimentos hospitalares de AVC e ataques cardíacos. “Mas nós queríamos saber se a quantidade desses problemas havia diminuído ou se as pessoas estavam morrendo dentro de casa”, explica o cardiologista.

Os dados do trabalho são interessantes nesse sentido. Em todas as capitais investigadas, o número de mortes por doenças cardiovasculares não especificadas aumentou consideravelmente. Segundo o texto do artigo, isso provavelmente tem a ver com a falta de um diagnóstico preciso, uma situação comum quando o óbito acontece fora do ambiente hospitalar.

“As pessoas pararam de procurar atendimento médico por medo de contrair o coronavírus no hospital ou no trajeto. Os pacientes não deixaram de morrer, só passaram a sofrer com os problemas cardiovasculares em casa”, raciocina Queiroga.

Belém e Manaus foram as únicas cidades nas quais até os registros que cravam qual problema cardiovascular matou o paciente também aumentou. Segundo os autores, o colapso no sistema de saúde desses locais foi tão grave que gerou uma subida nesse índice mesmo com muitas pessoas ficando dentro do lar.

“Foi o que mais chamou nossa atenção. Esse dado é um alerta importante para o fortalecimento do SUS”, aponta Queiroga.

Além da falta de socorro médico, o profissional acredita que a Covid-19 pode estar diretamente por trás de alguns infartos ou AVCs fatais. “O Sars-CoV-2 desencadeia problemas cardíacos, como miocardite, arritmia e síndrome coronariana aguda”, justifica.

Apesar dos números expressivos, o estudo tem limitações. Elas estão relacionadas principalmente à base de dados da Arpen. “As declarações de óbito, em geral, são mal preenchidas”, pondera Queiroga. Os cartórios das capitais foram escolhidos justamente para amenizar essas possíveis inconsistências.

Uma alternativa seria recorrer ao Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde. De acordo com Queiroga, ele é mais confiável — só que demora mais para liberar informações.

Ainda assim, o presidente da SBC afirma que os resultados são uma boa referência e que essa parece ser uma tendência mundial, já que um cenário parecido foi observado em outros países.

No norte da Itália (um dos locais mais afetados pela pandemia), as internações por síndrome coronariana aguda caíram, ao mesmo tempo em que os casos de parada cardíaca fora dos hospitais aumentaram.

“Nossa pesquisa traz um dado a mais para ajudar gestores e autoridades sanitárias do Brasil no enfrentamento da Covid-19”, finaliza o cardiologista.

 

Fonte: https://saude.abril.com.br/