Crônicas
Nunca é tarde
Há algum tempo percebo que algo está acontecendo, não estou tendo controle sobre os fatos, e isso me incomoda.
Por: Marilene Depes em 6 de agosto de 2025
Há algum tempo percebo que algo está acontecendo, não estou tendo controle sobre os fatos, e isso me incomoda. Em geral administro minha vida: o que como, bebo, assisto, leio, com quem convivo, enfim uma vida planejada. Observo que tenho lido pouco, alguns livros até iniciei e não dei continuidade.
Continuo com a leitura diária dos jornais A Tribuna e O Fato, e semanalmente as revistas Leia e Veja. Mesmo com a vida repleta de atividades sempre sobrou tempo para os livros. E ultimamente não sobra mais. Nem para ler, nem para tocar acordeão e nem para estudar línguas, tanto quanto gostaria. E o que me rouba o tempo?
Tenho assistido seriados e eles realmente me absorvem, não consigo ver só um ou dois episódios, fico presa ao enredo e só desligo após tudo ser desvendado. Os jornais na TV também me prendem, principalmente quando fervilham notícias. Na verdade, sou curiosa e consumidora voraz de informações, mas sempre fui, o que não me tirava o foco. O que tem acontecido comigo?
Nos últimos anos, e cada vez mais, sinto-me presa num aparelho, grudada até. Trata-se do meu celular. Semana passada fatos sucederam e ficou claro a minha dependência. O carregador parou de funcionar, já era tarde e fiquei angustiada, porque se não conseguisse outro carregador passaria a noite off line. Na segunda situação fui para o trabalho sem o aparelho, o que nunca acontece pois sempre verifico antes de sair. Como era sábado decidi não retornar e passei uma manhã sem celular e nada grave aconteceu, sobrevivi.
E aí me dei conta do quanto estou atrelada à vida on line, consumo e sou consumida pelo Facebook, WhatsApp, Instagram, YouTube, Messenger, X e Thread. E bombardeada por informações a cada minuto – uso o celular para rezar, interagir com grupos, trabalhar, cozinhar, estudar, partilhar a vida, participar de reuniões, enfim, o aparelho que me conecta à vida também me sufoca. E por tudo que narrei tomo a decisão: se é um vício vou me libertar, celular só em horas previamente estabelecidas, se for urgente me liguem. Nunca é tarde para recomeçar.