Crônicas

O grande outro

O que o outro vai achar? O que eu quero e espero que o outro veja e valide em mim?

Por: Janine Bastos em 1 de março de 2023

O que o outro vai achar?
O que eu quero e espero que o outro veja e valide em mim?
Muitas vezes enxergamos o outro como um Deus a quem reverenciamos e prestamos todas as obediências e responsabilidades.
Afinal, quem é, esse suposto outro?
Está sentado?
Ótimo, pois o outro não é nada mais, que uma projeção dos nossos medos internos, vou explicar.
Projeção é uma espécie de mecanismo usado pela nossa mente, para colocar para fora, aquilo que ainda não damos conta de enxergar em nós. Assim, como mágica, para não termos que sentir nossa vulnerabilidade e responsabilidade, opa, transferimos, fugimos e colocamos a responsabilidade no outro.
Porém, para mudarmos de fase, para andarmos para a frente é preciso colocarmos limites no outro, seja este outro o nosso super EU interno, também conhecido, como o nosso ditador interno, que quer intervir em tudo que fazemos, censurar, impedir…
…Chega!
É uma palavra simples, mas que é preciso usar, pois apenas assim, novas atitudes, postura, permissões, avanços, desenvolvimento da coragem interna, que nos ajudem a dar passos, a confiar, cada vez mais em nós mesmos, em Deus e na vida, se faz possível.
No livro Totem e Tabú, Freud explica como é primitivo este desejo das civilizações em prestar obediência a um certo “Deus”.
Mesmo antes do cristianismo, as civilizações já reverenciavam, sejam a outros Deuses da natureza, ou mesmo, construíam grandes Tótens para servirem de Deuses e serem adorados.
Seguimos neste modelo ainda hoje, acreditando estar do lado de fora aquilo que nos censura, e que de certa forma acreditamos que nos protege e dita as regras a serem seguidas, precisamos de algo externo par prestarmos obediência, seja políticos, religião, amuletos.
Sim, as regras se fazem necessárias para a nossa convivência em sociedade, isso é inquestionável, contudo, a construção do discernimento, dos valores e do bom senso é construída de dentro para fora, respeitando a singularidade que nos constitui.
Caso contrário seguiremos eternamente a boiada, sem construir o discernimento entre o EU e o OUTRO.
Desmistificar, retirar o Outro deste falso trono, é um pequeno grande passo para mudança, que se vê fora, mas se constrói dentro.