Crônicas

O sentido de uma vida

Muito tempo não sou visitado por essa doença simples, mas que acaba te derrubando: gripe. As vacinas são muito eficientes. Mas andei vacilando esses últimos dias.

Por: Wilson Márcio Depes em 23 de dezembro de 2019

Muito tempo não sou visitado por essa doença simples, mas que acaba te derrubando: gripe. As vacinas são muito eficientes. Mas andei vacilando esses últimos dias. Muito calor, muito ar refrigerado, mudando freneticamente de ambiente, meu organismo não resiste muito a essas mudanças bruscas de temperatura. Como tenho que usar a fala no próximo compromisso profissional, ligo pro Marcos Silveira, meu amigo de todas as horas. Resumo: uma injeção e pronto. Mas não é disso que eu iria falar. Mas um assunto puxa o outro e, como diria minha sobrinha, “vamu que vamu”. Fui à farmácia em busca da receita. Era um sábado à tarde. E quem eu vejo, transitando debaixo daquele sol cachoeirense? A irmã Otília, sem qualquer proteção, saindo do Cristo Rei em busca de seu destino: fazer o bem a quem precisa e precisa muito. Ia à Santa Casa afagar seus doentes, apaziguá-los, enfim. Eu, ali, reclamando de uma gripe, e a irmã Otília, sem qualquer exigência, seguia para seu sacerdócio, sem pedir nada a ninguém, a não ser que houvesse alguém para receber seu carinho. Mal sabe ela, meu Deus, que tinha uma pessoa ali, invejosa, torcendo por ela e que o seu exemplo abrandava qualquer mal-estar. Como gostaria, pensava comigo, de penetrar naquele silêncio, que carrega em sua cabeça baixa, seu manto branco, que faz do doente a última esperança, a esperança num Deus que vem através da presença da irmã. Confesso, sem mudar o parágrafo em busca de mais espaço, que tenho andando meio triste com o meu país. Vivemos de hábitos. Tenho poucos nomes para apontar como exemplos neste fim de ano mais propício para isso. Mas, me perdoem Rubem e Newton Braga, a irmã Otília escolheu Cachoeiro para fazer a obra mais bonita que seus filhos, por um lapso, talvez tenham deixado de inventar. E soube desmistificar Garcia Márquez quando diz que a sabedoria é algo que quando nos bate à porta já não nos serve para nada. Peço, assim, que todas minhas orações sejam só dela. Que possa ficar aqui por muito tempo, para que todos nós sejamos, no mínimo, mais felizes, menos arrogantes, para que possamos descobrir não só as orações diárias que ela sabe plantar, com exercício divino, o exato sentido de nossas vidas. Feliz Natal e Ano Novo sereno e de muita paz.