Crônicas
O tempo gasta tudo?
Não venha dizer que estou sem assunto. Por acaso, ouvi uma conversa entre a juíza Andréa Pachá e uma senhora de 95 anos, durante uma audiência, no Rio.
Por: Wilson Márcio Depes em 22 de setembro de 2025
Não venha dizer que estou sem assunto. Por acaso, ouvi uma conversa entre a juíza Andréa Pachá e uma senhora de 95 anos, durante uma audiência, no Rio. Conversa, aliás, que acabou em crônica. Quando ela veio a Vitória autografar um livro, pude relembrar o fato. Conversamos um bom tempo sobre o tema. Mas, vou logo ao assunto. Dizia ela para uma senhora de 95 anos que, afinal reclamava das limitações físicas e dos esquecimentos constantes. Mas sempre foi dona da sua vida e das suas vontades.
Conta que “a cunhada, aos 87 anos, foi chamada para acompanhá-la na audiência. Eram amigas da vida toda, praticamente irmãs. Expliquei que não precisava ser total. Podia se responsabilizar apenas pela administração das finanças e pelos cuidados no pagamento das contas e recebimento da pensão.”
A magistrada disse ainda que “não me sinto confortável declarando que uma pessoa vive quase um século é absolutamente incapaz para gerir a sua vida civil e o seu patrimônio, especialmente quando as limitações decorrem da ação avassaladora do tempo”. Eu, de minha parte, fiquei emocionado. Mas a magistrada me confortou: “Terminamos a audiência dando risadas e vendo as fotos do irmão, marido da cunhada, que, aos 97 anos, exibia uma peruca fantástica e um terno verde e amarelo para celebrar a Copa do Mundo”.
E encerrou: “No último Carnaval, fantasiou-se de Chaplin e a roupa, feita de palitos de fósforos foi construídas por ambas”. No final, a magistrada, conhecida em todo o país, habituada a julgar processos delicadíssimos, fechou com a seguinte conclusão: “Deve ser muito duro se submeter às restrições inevitáveis, mas senti uma profunda alegria de compartilhar com a dupla a alegria que resiste à ação do tempo.” Como é …