Crônicas
O vento e o mar
Dias atrás acompanhei o nascer de um dia em Cachoeiro de Itapemirim. De Cachoeiro carrego comigo o hábito de levantar-me antes da alvorada, e assim, da sacada do apartamento observo o município canela verde capixaba.
Por: Sergio Damião em 12 de março de 2024
Dias atrás acompanhei o nascer de um dia em Cachoeiro de Itapemirim. De Cachoeiro carrego comigo o hábito de levantar-me antes da alvorada, e assim, da sacada do apartamento observo o município canela verde capixaba. Vila Velha, se mostra: à esquerda, bem no alto e ao longe, o Convento da Penha; no centro: o Morro do Moreno e à minha direita: o mar. Do Convento vem a lembrança da Romaria dos Homens, uma obrigação que minha mãe, devota de Nossa Senhora da Penha, me fazia cumprir na adolescência. No Morro do Moreno, com a ansiedade domada, vejo com tristeza a diminuição da Mata Atlântica. O nascer do sol nas praias de Vila Velha (Itaparica, Itapuã e da Costa), as mais belas praias urbanas capixabas, torna-se algo alvissareiro. O vermelho-alaranjado parece brotar do fundo do mar em ascensão aos céus. Com o sol, e sua luz, rapidamente procuro a areia da praia e o mar. Não me atrevo a enfrentar suas ondas, o mar encontrava-se revolto. Bastava observá-lo, não era preciso desafiá-lo. Recuo, o suficiente para um leve toque da planta dos meus pés nas areias finas e claras que logo recebem as águas geladas do mar de Itapuã. No frio de suas águas em meus pés desperto um calor humano represado nas memórias. Desperto minhas reminiscências. Sigo o vento, lentamente ele me impulsiona. Nas lembranças, e com o vento, caminho em direção as luzes dos navios que se encontram no outro extremo. Pelo caminho, ainda solitário, busco a razão de tão poucas pessoas aproveitarem os instantes de liberdade. Sim, a sensação que tenho ao caminhar pela areia da praia é de estarmos livres. Livres de nossas angústias. Livres das nossas paixões. Uma harmonia de corpo e alma. O pensamento e a visão retornam às ondas do mar. O vento e as tristezas se misturam a inda e vinda das águas e nos devolvem a esperança. Nas ondas do mar, bem no fundo do mar, vejo a Caixa de Pandora, com todas as mazelas do mundo, mas com a esperança depositada em um dos seus cantos. No alto do Morro, vi o Convento da Penha. No dia claro, com os pássaros brancos sobrevoando as águas azuis; o vento em minha face sussurrava aos meus ouvidos: acredite, é possível…. Quem sabe amanhã. Busque as coisas simples da vida. As coisas simples estão ao alcance de todos.