Saúde
Ozempic mostra ação poderosa contra infarto e AVC, independentemente do peso
Pesquisa com mais de 17 mil pacientes mostra que o efeito protetor vai além do emagrecimento e reacende debate sobre papel dos agonistas de GLP-1 na cardiologia.
Por: Redação em 17 de novembro de 2025

Maior estudo já conduzido com semaglutida em pacientes com doença cardiovascular e sem diabetes — confirmou que o medicamento reduz de forma significativa o risco de eventos cardiovasculares graves, como infarto, AVC e morte cardiovascular. O ensaio incluiu 17.604 participantes com sobrepeso ou obesidade e histórico de doença cardíaca.
Os resultados, divulgados por centros de pesquisa internacionais e revistas científicas, mostram uma redução de cerca de 20% no risco de MACE (Major Adverse Cardiovascular Events) em comparação com o placebo.
Efeito observado em todas as faixas de peso
Um dos achados que mais chamou atenção dos pesquisadores foi a consistência do benefício em todas as categorias de peso e IMC. Isso significa que o efeito protetor não se restringiu aos pacientes que perderam mais quilos nem aos que tinham obesidade mais acentuada.
A perda de peso continua sendo um dos efeitos conhecidos da semaglutida, mas ela não explica totalmente a redução do risco cardiovascular.
A circunferência da cintura explica apenas parte do benefício
De acordo com as análises de mediação do estudo, apenas cerca de um terço da redução do risco cardiovascular parece estar associado à diminuição da circunferência da cintura — medida que indica redução de gordura visceral, mais diretamente relacionada ao risco cardiovascular.
Os outros dois terços do benefício, segundo os autores, devem ser atribuídos a mecanismos próprios da droga, que vão além do emagrecimento. Entre as hipóteses estudadas estão:
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melhora da inflamação sistêmica,
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impacto direto nos vasos sanguíneos,
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efeitos metabólicos que reduzem estresse cardiovascular.
Esses mecanismos ainda estão sendo investigados, mas já reforçam a ideia de que a semaglutida traz proteção adicional.
Medicamento pode ganhar novo status na cardiologia
Diante dos resultados, pesquisadores envolvidos no SELECT defendem que os agonistas de GLP-1, como a semaglutida, devem ser vistos não apenas como medicamentos para perda de peso, mas como tratamentos modificadores de risco cardiovascular, especialmente em pacientes com histórico de doença cardíaca.
Essa reclassificação ainda depende de diretrizes oficiais, mas o debate já está em curso em grandes congressos internacionais de cardiologia.
Por que isso importa?
A constatação de que o medicamento protege o coração independentemente da perda de peso muda o cenário do tratamento de milhões de pessoas. Para pacientes com doença cardiovascular estabelecida, os agonistas de GLP-1 podem se tornar parte fundamental da prevenção de novos eventos, mesmo entre aqueles que não apresentam obesidade grave.
O estudo segue em análise e novos dados devem aprofundar a compreensão dos mecanismos envolvidos, mas o consenso entre pesquisadores é claro: a semaglutida inaugura uma nova fase na relação entre endocrinologia, obesidade e cardiologia.