Comportamento

Por que tanta gente está escrevendo um diário na quarentena

Escrever é uma ferramenta terapêutica poderosa para se conhecer melhor. E a quarentena, quando a maioria das pessoas está com algum tempo sobrando, além de cabeça borbulhando de pensamentos e dúvidas, é mesmo um bom momento para colocar a atividade em prática.

Por: Redação em 10 de setembro de 2020

Nas novas rotinas criadas para atravessar o isolamento social sem perder (totalmente) a sanidade mental, muita gente fez de caneta e papel os melhores companheiros de confinamento e começou a escrever – um diário, pensamentos, frases aleatórias e até poesia.

Escrever é uma ferramenta terapêutica poderosa para se conhecer melhor, resgatar memórias e crescer. E a quarentena, quando a maioria das pessoas está com algum tempo sobrando, além de cabeça e coração borbulhando de pensamentos e dúvidas, é mesmo um bom momento para colocar a atividade em prática.

Escrever é uma espécie de experiência meditativa: um momento de conexão com você e seus conteúdos internos, muitas vezes silenciados pela rotina corrida e a vida automatizada. Quem tem dificuldade para se expressar oralmente, por timidez ou falta de oportunidade para dizer determinadas coisas, encontra na escrita uma forma de desabafar emoções, registrar intenções e organizar pensamentos.

O ato mecânico de deslizar lápis ou caneta pelo papel, e não digitar no celular ou teclado do computador, faz toda diferença para o processo da escrita como recurso de autoconhecimento e relaxamento. Escrever à mão obriga a desacelerar o pensamento e prestar atenção ao desenho das letras e das palavras, e isso acalma a mente e o corpo. Já o ritmo da digitação fragmenta a atenção quando você volta no texto para corrigir uma grafia errada, por exemplo.

O ritual das morning pages ou páginas matinais, criado pela escritora e mentora de criatividade norte-americana Julia Cameron e apresentado no livro O caminho do artista (editora Sextante), virou hit na quarentena. O exercício nada mais é do que escrever, como primeira tarefa do dia, três páginas à mão sobre qualquer coisa que passar pela cabeça, sem compromisso com forma, estilo, correção ou sentido. A ideia é que esse descarrego verbal logo pela manhã ajuda a tirar da mente questões que, sem você perceber, funcionam como obstáculos à criatividade e à realização. “É uma maneira de escapar do seu censor interno, aquele crítico maldoso que reside no cérebro e emite toda sorte de opiniões negativas como se fossem verdades”, define Julia Cameron no livro. Só experimentando para confirmar que a técnica é mesmo potente.

O não julgamento é o melhor amigo da escrita como terapia porque é um convite à liberdade. Isso vale para o momento das suas páginas matinais, mas também para se lembrar de ter cautela ao expor ideias e pensamentos nas redes sociais. Afinal, comentários e o volume de interação podem desmotivar, travar a criatividade e até traumatizar. É legal saber separar, dentro de sua produção escrita, o que é para ser lido e o que apenas precisa ser colocado no papel. Se você for escrever pensando em quantos likes vai ganhar ou que alguém pode ler e não gostar, perde a oportunidade de se ouvir de verdade e expressar o que está sentindo.