Artigo

Prolixo

O tempo de convalescência não é respeitado e guardado.

Por: Sergio Damião em 20 de março de 2020

Dia desses fui surpreendido, ouvi: Sergio, não seja prolixo. Estava ao telefone e o observador ao meu lado. Lembrei do tempo de faculdade. Certa vez fui chamado à atenção por um colega de Escola: diminua a prolixidade. Na ocasião, não atentei para o fato. Acho que não entendi a observação e não sabia se a prolixidade ajudaria ou não na profissão. Prolixo: palavra derivada do latim, algo extenso, longo. Pior, tediosamente extenso e cansativo pela grande quantidade de minúcias inúteis, supérfluas. Bem… Na verdade, será isso chatice? Tudo leva a crer que sim: no passado e por duas vezes no presente. Duas vezes, recente: em casa e no hospital. Será o envelhecimento? Bom… Parece que em tempos atuais as pessoas perderam a paciência. Exigem a laconicidade. Pedem: seja breve. Lacônico (muito breve, ao falar ou escrever; seja de poucas palavras). Um quase, não me canse. A paciência já não se encontra no consultório médico (não podemos mais chamar “pacientes”). Perguntam: “Doutor, o que tenho?” Um diagnóstico definitivo deve ser feito de pronto. Algo, muitas vezes, impossível. Os sinais e sintomas de uma doença podem não aflorar de imediato. As pessoas têm pressa. Cada vez maior. O tempo de convalescência não é respeitado e guardado. O tempo tornou-se um instantâneo. Instantâneo na imagem, no diagnóstico de uma doença, na cicatrização de uma ferida cirúrgica, nas respostas… Como na maioria das vezes não as temos, tornamo-nos ansiosos. Devemos ser concisos: termos mais próprios e significativos, sem redundâncias; sucintos: apenas ideias essenciais, sem pormenores. Mas, nem sempre é possível agradar. As pessoas, em sua correria diária, mudam de humor – ora desejam as explicações minuciosas; em outros momentos, de um mesmo dia, nada querem ouvir. Os que explicam se cansam. Tornam-se lacônicos, palavra derivada do grego, dos espartanos – do povo que discursava brevemente. Assim: um recado deve ser lacônico, conciso e sucinto. Pena, com o passar dos anos, o medo de errar, ou não se fazer entendido, nos deixa totalmente diferente dos guerreiros espartanos. Com o cansaço dos anos de vida, na comunicação, nos aproximamos de um veterano de guerra.