Crônicas

Que é isso gente!

Nessa pandemia parece que aflorou uma desumanidade assustadora nas pessoas. Ouço todos os dias que morre quem é do grupo de risco. Será que não se colocam no lugar do outro?

Por: Marilene Depes em 27 de abril de 2020

Nessa pandemia parece que aflorou uma desumanidade assustadora nas pessoas. Ouço todos os dias que morre quem é do grupo de risco. Será que não se colocam no lugar do outro? Idosos, diabéticos, cardíacos, fumantes, obesos, os de imunidade baixa, e não imaginam o quanto angustia a esses segmentos esse tipo de comentário? E os idosos em especial, peças descartáveis a serem dizimados da face da terra?
E incrível as observações, felizmente poucas, após o lindíssimo live de Roberto Carlos em seu aniversário. Alguém publicou que estava perplexo de como ele está envelhecido e enrugado, e outro que nem conseguiu assistir por conta da aparência do cantor. Na mesma postagem, felizmente, a maioria comentou sobre o envelhecimento como algo natural no decorrer da vida. Eu assisti ao show agradecendo pelo presente que Roberto Carlos deu a cada um dos seus fãs, com suas músicas românticas e de cunho espiritual, tão propícias ao momento de angústia em que estamos vivendo. Para mim e para a maioria do povo brasileiro, tenho certeza que foi como um maná que caiu dos céus. E lembrei-me do povo judeu, que foi salvo do Egito por Moisés, e que recebendo o maná que Deus enviava como alimento na travessia do deserto, murmurava insatisfeito desejando voltar à escravidão. E assim somos capazes de nos apegar a uma insignificância, a fim de desmerecer o que nos chega de forma espontânea e gratuita.
E outro aspecto é o culto da sociedade à beleza e juventude, como se ao envelhecer tivéssemos que nos isolar e nos mantermos fora do contexto, a fim de não causarmos constrangimentos. A realidade é que, não aceitamos no outro o que desprezamos em nós mesmos. Quantas pessoas envelhecem e não saem de casa, param de se cuidar, não se olham nos espelhos e passam a viver no ostracismo. Envelhecer é o natural da vida e agradeço a Deus, todos os dias, pelo meu envelhecimento, o que significa que ainda não morri.
Voltando a Roberto Carlos lembrei-me de Frank Sinatra, nos palcos até o final da vida e sempre um ídolo para os americanos. E o nosso Rei continua compondo e se apresentando por décadas, enquanto tantos cantores surgiram e desapareceram. E honra e glória a ele e aos Martinho da Vila, Alcione, Elza Soares, Chico, Gal, Maria Betânia, Caetano, Gil, Zé Ramalho, Paulinho da Viola, e tantos que nos presenteiam com sua arte magnífica. E finalizo com o seguinte comentário de alguém com bastante lucidez: Tô de queixo caído de ver como Roberto Carlos continua bom! É por aí!