Cultura
Quem foi Newton Braga, idealizador do Dia de Cachoeiro
Mais lembrado por ser autor de poemas como “Fraternidade” e “Batei, lavadeiras!”, Newton Braga exerceu diversas atividades em vida, dentro e fora do mundo das letras: jornalista, advogado, publicitário, cronista, cartorário e até jogador de futebol.
Por: Redação em 28 de junho de 2021
Em 2021, completam-se 110 anos do nascimento de Newton Braga (1911-1962), principal idealizador do Dia de Cachoeiro, celebrado em 29 de junho. Pelo segundo ano consecutivo, não serão realizadas as tradicionais atividades comemorativas por causa da pandemia de Covid-19. Apesar disso, a proximidade da data é uma boa oportunidade para rememorar a trajetória de Newton.
Mais lembrado por ser autor de poemas como “Fraternidade” e “Batei, lavadeiras!”, Newton Braga exerceu diversas atividades em vida, dentro e fora do mundo das letras: jornalista, advogado, publicitário, cronista, cartorário e até jogador de futebol, tendo inclusive atuado como zagueiro no Estrela do Norte Futebol Clube.
Ele nasceu em 11 de agosto de 1911, na então Fazenda do Frade, de propriedade de sua família, sendo o quarto dos sete filhos de Francisco Carvalho Braga e Rachel Coelho Braga – o casal teve outros seis que não sobreviveram até a fase adulta. Era dois anos mais velho que o seu irmão mais ilustre, Rubem Braga, este nascido quando eles já residiam na rua 25 de Março – onde hoje fica a Casa dos Braga, um dos principais centros culturais da cidade.
Newton passou a maior parte de seu período de formação estudando no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte, mas visitava constantemente a terra natal e dava contribuições ao Correio do Sul, histórico jornal fundado em 1928 pelos irmãos Jerônimo e Armando. Formou-se em Direito em 1931, e no ano seguinte voltou para a sua cidade, para ficar mais perto da família – muito por conta das mortes, então recentes, de sua irmã mais velha, Carmosina, e de seu pai, que foi o primeiro prefeito de Cachoeiro.
Morando novamente em Cachoeiro, Newton tornou-se figura assídua nas principais manifestações culturais e recreativas. Mesmo não sendo um “folião nato”, escrevia marchinhas e ajudava a organizar blocos carnavalescos nas comunidades, o que lhe angariava popularidade. Detestava o trabalho no cartório da família, preferindo deixar o serviço com funcionários e dedicar seu tempo a outras atividades – inclusive, a uma “boemia comportada” pelos bares da cidade, conforme relata o escritor Evandro Moreira no livro “Newton Braga – O Poeta Franciscano”.
Também chegou a se candidatar a vereador, por insistência de amigos – dizem que ele trabalhou contra a própria candidatura. Apesar de ter apoiado iniciativas político-partidárias, preferia restringir seu ativismo a causas cívicas.
Como intelectual, colaborou com jornais e revistas regionais e nacionais. Em 1945, publicou “Lirismo Perdido”, livro de poesias de influência modernista, que lhe rendeu carta elogiosa de Carlos Drummond de Andrade. No ano seguinte, saiu “Histórias de Cachoeiro”, obra que almejava apresentar a história do município a estudantes. Já o livro “Cidade do Interior” reuniu crônicas e croniquetas publicadas nos anos 50, em sua coluna “Casos e Epigramas”, no jornal Diário de Notícias.
Postumamente, também foram lançados os livros “Poesia e Prosa”, em 1964, reunião de seus principais escritos feita por Rubem Braga, e “Uma Voz da Província”, em 2011, coletânea de críticas literárias publicadas no Diário de Notícias.
Newton com a esposa Isabel, nos anos 50: um apaixonado por Cachoeiro
A criação do Dia de Cachoeiro
A ideia de Newton Braga para o Dia de Cachoeiro começou a ser difundida a partir de 1936, no Correio do Sul. A proposta era realizar uma confraternização de todos os cachoeirenses, reunindo aqueles que já não moravam mais na cidade. A festa deveria acontecer em 29 de junho, Dia de São Pedro, padroeiro do município, por ser uma data mais próxima das férias de julho e por coincidir com um período de clima mais ameno. Além disso, também se considerava a data de emancipação de Cachoeiro, 25 de março, muito próxima do carnaval, festividade na qual a população gasta mais dinheiro – e a maior parte ficaria sem reservas financeiras para gastar na festa.
A proposta foi ganhando adeptos e, em 1938, já estava decidido que aconteceria no ano seguinte. Inicialmente, a comemoração do Dia de Cachoeiro não era organizada diretamente pelo poder público, apesar de o então prefeito, Fernando de Abreu, ter atuado na comissão de organização.
A festa de 1939 foi um sucesso e a tradição pegou. O título de Cachoeirense Ausente Nº 1 surgiu em 1942 – o conceito básico era nomear alguém como representante de todos os ausentes, tendo em vista que muita gente que não morava mais na cidade continuava não conseguindo participar das festividades. O tabelião Heráclides Pereira Gonçalves, amigo de Newton, foi o primeiro agraciado.
Cachoeirense Ausente de 1962
Newton foi morar no Rio de Janeiro com a esposa, Isabel, e os filhos em 1958. Os relatos históricos de pessoas próximas dão conta de que ele não desejava deixar a terra natal, mas respeitou a vontade da família de viver em uma cidade maior, com mais oportunidades. Ainda assim, continuou visitando Cachoeiro frequentemente, onde inclusive manteve alguns negócios.
Por essa época, sua saúde também se mostrava mais fragilizada. E na manhã do dia 1º de junho de 1962, enquanto lia um livro, seu coração parou definitivamente. A notícia de sua morte, aos 51 anos, causou comoção em Cachoeiro, rendendo também notas emotivas na imprensa de amigos jornalistas. Como homenagem, Newton foi declarado o Cachoeirense Ausente de 1962.
Também como forma de marcar a sua importância para Cachoeiro, foi construído um monumento em sua homenagem na praça Jerônimo Monteiro – um pouco maior do que o busto que ainda hoje se encontra na praça.
Embaixo de sua escultura, estão gravados os versos finais de “Fraternidade”, seu poema mais conhecido: “esta sensibilidade que é uma antena delicadíssima, captando pedaços de todas as dores do mundo, e que me fará morrer de dores que não são minhas”.
Festival de Poesia
Como parte da comemoração dos 110 anos de Newton Braga, a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Semcult) de Cachoeiro promoverá o 1º Festival Literário de Poesia “Newton Braga: entre seus amores e minhas paixões”.
Poderão participar autores de todo o país, com ou sem livro publicado. Os escritores interessados devem se inspirar no tema proposto pelo evento. O texto precisa ser inédito e deve ser enviado para o e-mail: festivalpoesianewtonbraga@gmail.com. As inscrições estarão abertas até o dia 17 de julho.
Os 20 poetas selecionados pela comissão julgadora receberão, como prêmio, um certificado digital da Academia Cachoeirense de Letras (ACL) e o livreto impresso com as poesias escolhidas. Além disso, seus textos serão publicados na edição especial dos 110 anos de Newton Braga, na revista Cachoeiro Cult.
O edital com todas as informações sobre o festival está disponível no site www.cachoeiro.es.gov.br/editais/.