Crônicas
Quem sou eu na pandemia?
Em entrevista o filósofo e escritor Luiz Felipe Pondé fez uma análise geral da pandemia e suas consequências para a humanidade, e dela farei algumas ponderações.
Por: Marilene Depes em 4 de maio de 2020
Em entrevista o filósofo e escritor Luiz Felipe Pondé fez uma análise geral da pandemia e suas consequências para a humanidade, e dela farei algumas ponderações. A quarentena que nos é imposta é um período de muita transformação na vida cotidiana e pode ser vivida sob vários aspectos. Alguns negam sua necessidade e continuam vivendo normalmente, em desrespeito à própria vida e aos dos semelhantes – aqui onde moro me preocupa os sons de música e festa nos finais de semana. Outros fazem a quarentena afirmando que está tudo as mil maravilhas, postam selfies nas redes sociais, e demonstram estar curtindo férias paradisíacas na clausura – alienação não é sinônimo de normalidade. E outros mais são os hipocondríacos, ansiosos e depressivos, que se tornam obsessivos e paranoicos – esses tornam a vida familiar um inferno. Só falam da doença, sentem sintomas a cada momento, uma tossida já é diagnóstico para o corona, são egocêntricos, controlam tudo na casa, vigiam a família para que respeitem a quarentena dentro de regras restritas, pesquisam sobre vacinas, medicamentos e tratamentos, assistem todos os programas de TV que tratam do assunto e procuram na internet vídeos e áudios informativos, em geral de gente sem nenhuma capacidade científica para produzi-los, e repassam impiedosamente todas as informações, isto é, verdadeira cultura do vírus do terror. E são eles, os paranoicos, que se tornam agressivos, intransigentes e responsáveis pelos inúmeros casos de violência doméstica e de separações. E a paranoia atrai o desespero e este atrai a morte.
É possível manter a sanidade diante do quadro em que vivemos? Primeiro não permitir que controlem sua vida, cabe unicamente a você geri-la, sempre. Combata a percepção que o outro é um mero transmissor do vírus, o que é uma desumanidade principalmente com os auxiliares. Seja um pouco egoísta, não tenha a obrigação de tornar o outro feliz para se sentir feliz. Não fique trancado em casa achando que até o ar é perigoso, existe um meio termo entre sair na rua fazendo aglomeração e ficar em casa na solidão. Quem sai, quando realmente necessário, e protegido, tem menos medo, o que é um privilégio. Cultivar a coragem é um passo de sabedoria nessa epidemia, que tem deixado à mostra o nosso comportamento social. E dela sobreviverão aqueles que sabiamente souberem atravessa-la.