Artigo

Robinho

Caminhava pela orla da Praia Canela Verde, observava a restinga e as idas e vindas das ondas do mar. As Praias de Itaparica, Itapoã e da Costa encantam pelo aconchego.

Por: Sergio Damião em 16 de junho de 2025

Caminhava pela orla da Praia Canela Verde, observava a restinga e as idas e vindas das ondas do mar. As Praias de Itaparica, Itapoã e da Costa encantam pelo aconchego. Acho que essa sensação se deve a proximidade do Convento da Penha, Morro do Moreno e pela Colônia de Pescadores que me traz à memória minha avó Maria das Neves. Logo percebo a barraca do Filinho. Ele oferece a cadeira, sento, abro o livro após leitura da capa: A Cegueira do Rio. Escrito pelo Moçambicano Mia Couto. O livro descreve Moçambique em 1914, às vésperas da Primeira Guerra Mundial. Alemanha e Portugal disputavam o território à margem do rio Rovuma. Sobre a África, Mia Couto diz: É uma terra estranha. Não somos nós que a habitamos. É ela que nos habita. Uma indicação do Angolano José Eduardo Agualusa, autor da Teoria Geral do Esquecimento, livro que nos leva a profundidade da alma humana de onde surgem as memórias, memórias que brotam dos esquecimentos. De repente interrompi a leitura. Do campo de futebol de areia em frente ao quiosque do Filinho, ouvi: “Passa a bola, Robinho!” Junto às ondas do mar, todos os jogadores argumentavam com Robinho. Robinho comportava-se como dono da “pelada”. Um verdadeiro “babão” de pelada (jargão usado pelos peladeiros). Culpavam o Robinho, mas todos sabiam que era apenas uma desculpa. Na verdade, todos cansados, aguardando apenas a senha do “babão” do dia. A pelada tem suas próprias regras. Organização perfeita, sem que seja necessário regras escritas. Era hora para a resenha e a cerveja do pós jogo. Voltei o olhar para as páginas da Cegueira do Rio, lembrei Agualusa e sua Teoria do Esquecimento e me veio a memória Robson Valiati, o nosso Robinho dos campos de pelada do Clube dos Médicos. Era o nosso goleiro, nos momentos difíceis da peleja, ele atravessava a área e todo campo e decidia a partida com um chute inesperado e épico. Ganhava aplausos dos peladeiros: Rogério Scarp (Peixe), Muica, João Schubert, Vitório, Salvador, Ricardo Girelli, Edson Bastos, Sérgio Ervati, Cerqueira, Gastão, Renato Pinto, Stenio, Carlão, Lindolfo, Magnus Machado, Macário Judice, Mesquita, Rene Gioto, Fidel, Mello, Álvaro, Roberto Novaes, João Antônio, Adriano Lugon, Paulo Nicoli, Mauricio Cade, Carlos Scaramussa, Domício…