Artigo
Tarja preta
A dor vai te atravessar. E seguiremos, apesar e em função dela. A dor é seta, nos mostra caminhos, nos rasga para dar passagem a mais vida, a mais de nós mesmos e do mundo, que não imaginávamos que ainda iríamos descobrir.
Por: Janine Bastos em 3 de novembro de 2021
A dor vai te atravessar. E seguiremos, apesar e em função dela. A dor é seta, nos mostra caminhos, nos rasga para dar passagem a mais vida, a mais de nós mesmos e do mundo, que não imaginávamos que ainda iríamos descobrir.
Falamos: – nunca imaginei que passaria por isso.
E passou, parabéns!
Isso é vida, é algo muito maior do que a nossa mente, por mais inteligente que seja, ousa imaginar. Somos ainda mais inteligentes se junto da mente, conectamos nossos corpos, que guardam vida, informações, lembranças, sensações, sentimentos.
Passar pela dor é convite para nos mantermos humildes, pequenos, empáticos a nossa própria dor, e por essa razão, empáticos a dor do outro também.
Passar pela dor é convite para construirmos um entendimento de nós e da realidade vivida. Considerando a importância e dimensão da vida, como algo muito maior do que como dito, poderíamos imaginar. Pois viver é saber lidar com alegrias e dores inerentes à vida.
E você, que dor é essa que por medo de sentir você congela e paralisa sua vida e tem a impressão que tudo permanece sempre igual, te dando a falsa, porém real sensação de estar morto em vida? Paralisado, congelado, por um padrão racional de funcionamento que não sabe o que fazer além de pensar. O fazer, nem sempre está pronto, ele nasce do verdadeiro contato com a suas dores, com seus limites, com suas percepções, sensações, nasce do sentir, e assim podemos construir o inimaginável, mas para isso precisa estar conectado com o ser que sente. Sem sentir a vida vira ato mecânico, sem valor sem sentido sem vida, vira ato pobre, doentinho, ato compulsivo.
Somos seres subjetivos que precisa aprender a ouvir a sua subjetividade a olhar e deixar o inconsciente sair do submerso, nos alcançar a consciência e nos despertar a ter atitudes conectadas com a grandiosidade do ser que somos, que está para além do saber, que precisa aprender a sentir. Quando falo em grandiosidade, não falo em superioridade, falo de dimensão, tão grande que cabe inclusive as dores e a nossa pequenez, que insistimos em não olhar, não cuidar ou insistimos em cuidar apenas anestesiando com remédios tarja preta, likes comprados ou com uma agenda cheia de relações vazias. Até quando a dor vai te incomodar e você vai continuar negando, seja se fazendo de forte, de superior, ou ainda o oposto, se fazendo de fraco, de refém, até quando, vai insistir em não sentir?