Crônicas
Um pouco de cada um…
As pessoas se oferecem para trabalhos voluntários, e por toda parte vemos se multiplicarem em ações de todo tipo...
Por: Wilson Márcio Depes em 4 de maio de 2020
Muito tempo não leio a Heloisa Seixas, mulher do Ruy Castro, que conheci na casa do Ziraldo. Pessoa doce, escritora, competente, que reencontrei dia desses nas páginas de O Globo. Em meio à pandemia, conta ela, encontra um amigo que é empresário aposentado e tem uma ONG. Dedica-se há anos a trabalhar em favor de comunidades carentes, menores desvalidos e pessoas que vivem pelas ruas. Reforma praças com material reciclado, organiza orquestras de violinos para jovens, promove aulas de defesa pessoal para rapazes e moças. Encontra outra amiga que é educadora e trabalha para uma ONG, o Observatório das Favelas. É uma das gestoras da Arena Dicró, na Penha, e desenvolve projetos para levar educação e cultura às comunidades em torno, como o Complexo da Maré. Há anos fazem sua parte. Para eles, os problemas do mundo não nos desobrigam de ações isoladas. A estória é, além de emocionante, altamente dignificante. Com a pandemia, o trabalho de pessoas como seus amigos nos faz refletir. Eles praticam o ano inteiro aquilo que só agora está nos ocorrendo fazer: ajudar pessoas em pior situação do que nós. Elas se tornaram mais reais, mais próximas do que nunca. O pipoqueiro, a diarista, o vendedor de bolo. O morador de rua que está sempre ali, na esquina, e que tentávamos não olhar. Todos de repente ficaram enormes. E importantes. Descobrimos que somos iguais em nossa pequenez diante de um vírus desconhecido e mortal. Estamos todos juntos, como talvez nunca antes. Em meio às notícias terríveis, vemos as histórias de solidariedade saltarem das páginas e das telas. As pessoas se oferecem para trabalhos voluntários, e por toda parte vemos se multiplicarem em ações de todo tipo, como distribuição de cestas básicas ou de kits de higiene. Vizinhos jovens vão ao supermercado para os mais velhos, que são do grupo de risco. Afinal, estamos nos dando conta do valor de cada trabalhador do nosso dia a dia. Que esses sentimentos nos marquem para sempre e não se dissolvam quando tudo acabar. Que possamos emergir mais generosos. E sejamos, daqui por diante, um pouco de cada um deles, todos os dias. É o que, afinal, um pouco cansado, posso desejar.