Artigo
Vou-me embora prá Marte
Manuel Bandeira desejou Pasárgada. Diferente do poeta desejei outro planeta. Em Marte ficaria livre das corrupções e...
Por: Sergio Damião em 4 de maio de 2020
Manuel Bandeira desejou Pasárgada. Diferente do poeta desejei outro planeta. Em Marte ficaria livre das corrupções e… Em meu processo de amadurecimento da viagem interplanetária, projeto da NASA, lembrei que a colonização de Marte seria semelhante a dos Europeus nas Américas na época das Grandes Navegações do séc. XV e XVI. Europeus trouxeram a varíola e dizimaram os povos aqui existentes. Para Marte levaria o novo coronavirus. Mudei de ideia. Permaneceria na Terra. Passei a observar a Beira-Rio, Pico do Itabira. Frade e a Freira… Isto é, as coisas de nossa cidade. Como está castigada. Desde os resíduos da Vale e o Mar de Lama no Rio Doce, fechamento da Samarco e comprometimento da economia sul capixaba. Em seguida, 2020, uma das piores enchentes do Itapemirim e agora a Pandemia do Coronavirus, isolamento social e fechamento do comércio. Era início de março, meu neto Bernardo estava em Cachoeiro. Com ele no colo me aproximei do rio, com dificuldade cheguei à calçada. De repente, ele disse: vovô, vovô! Tudo estragado. Olhei e vi que ele se referia às pequenas pedras e os vários buracos. Eu disse: essa calçada é formada por pedras portuguesas. Em Lisboa e na Ilha da Madeira, terra dos seus avós maternos, elas se destacam. No Rio de Janeiro, também. Nas cidades portuguesas existem os “calciteiros” (artistas e artesãos para assentamento dessas pequenas pedras). Falava com tristeza. Sabia que seria o último olhar do Bernardo sobre aquelas pequenas pedras. Dias depois, as pedras, gradativamente, estão sendo substituídas pelo cimento batido. Menos uma beleza em nossa cidade. Mas, era uma perda esperada, as pedras estavam condenadas. Nos últimos anos traziam riscos às pessoas. Recentemente, por telefone, falei com Bernardo. Não contei sobre o desaparecimento das pedras. Ao Bernardo falei: em seu caminho, nesses tempos difíceis que virão, busque a sabedoria (discernimento para as coisas certas e justas); tenha força (para a perseverança) e não se esqueça da beleza. Por que a beleza? A beleza é um valor tão grande quanto a verdade e o bem. A beleza nos aproxima da poesia, da arte e da música. A praticidade das coisas nos tira a beleza. Sem a beleza perdemos o sentido da vida.