Crônicas

Almas gêmeas

De repente me vejo num grupo de mulheres analisando a essência do ser feminino, e percebo que minha tribo mudou, e como mudou!

Por: Marilene Depes em 6 de setembro de 2021

De repente me vejo num grupo de mulheres analisando a essência do ser feminino, e percebo que minha tribo mudou, e como mudou! Fui me afastando de alguns amigos aos poucos, à medida que ia percebendo que não falávamos mais a mesma língua, aliás nunca falamos, só que eu não percebia. Passei a entender a minha essência há anos, a partir do encontro com o povo e a me envolver com as associações de moradores, com os conselhos de direitos e com gente que luta para melhorar as condições de todos sem colocar as mãos em armas, aliás eu detesto armas. Para mim a única arma que acaba com a servidão é o estudo, além do trabalho e a fraternidade entre os irmãos.
Fui me afastando à medida que pessoas que imaginei inteligentes, se tornaram tão obcecadas que não captavam o óbvio, e compartilhavam como verdades absolutas fake news das mais absurdas, muitas delas totalmente contrárias ao comprovado pela ciência. Não acho correto misturar política com religião, nem usar o nome de Deus como palanque. Se família é sagrada, para defende-la seria importante acreditar na sua indissolubilidade e demonstrar com testemunho de vida. Mulher tem os mesmos direitos que os homens e sou totalmente contrária a líderes religiosos que pregam a submissão feminina, meu líder religioso é o Papa Francisco, e tenho outros líderes tais como Ghandi e Martin Luther King. Respeito todos os tipos de música, mas curto principalmente Caetano Veloso, Chico Buarque, Martinho da Vila, Zeca Pagodinho, Zé Ramalho, e independente de suas posições políticas, eles representam o que há de melhor na música brasileira.
Como cristã aprendi a amar e conviver com gays e lésbicas, sou a favor da união de pessoas do mesmo sexo, convivo com jovens, idosos, negros, brancos, pobres, ricos, não aceito ideias preconceituosas, faço parte de conselhos que defendem os mais fragilizados, detesto grosseria e confusão, principalmente quem confunde arma com feijão – e como curto samba e carnaval dá para entender em qual bloco eu desfilo. Liberdade de expressão não dá o direito de ameaçar ninguém, não tenho político de estimação, mas tenho senso e intuição, a situação atual não é favorável à ninguém, e o pior cego é que não quer ver por alguma razão, e me assusta a falta de discernimento e o radicalismo das pessoas.
Meu carinho por todos se mantém, mas se a convivência perdeu a fraternidade prefiro me afastar. E nem é exatamente por questões políticas, é por questão de sobrevivência mesmo. Eu prefiro seguir o caminho do amor… juntamente com almas gêmeas.