Crônicas
Vida passada a limpo
Quando estudante copiamos a matéria do professor durante a aula, e para não perder nada escrevemos rapidamente e sem caprichar na letra.
Por: Marilene Depes em 28 de maio de 2025
Quando estudante copiamos a matéria do professor durante a aula, e para não perder nada escrevemos rapidamente e sem caprichar na letra. Quando em casa, com calma passamos a limpo, e só no fato de reescrever o conteúdo, fixamos a matéria.
Penso que assim é a vida e explico. Tornei-me uma pessoa longeva, a expectativa de vida para as mulheres, segundo o IBGE é de 79,7 anos, portanto estou vivendo além do tempo previsto pelos dados atuais. E dentro dessa perspectiva posso afirmar que o tempo que me está sendo concedido é espaço propício para passar a limpo a minha história e corrigir o que ainda possa fazê-lo, isto é, agora sou capaz de reescrever o meu vivido se assim o desejar.
Levando em consideração que só eu conheço a minha realidade, cabe a mim reavaliá-la e reformular o que acho pertinente. Insisto em declarar a propriedade da vida que é minha, para afastar qualquer intromissão, de pessoas solidárias, familiares e amigos que pensam possuir o livre arbítrio de se intrometer na vida alheia.
Observo o quanto cresci com o passar dos anos, aprendi a amar incondicionalmente, não cobro reciprocidade de ninguém. As pessoas que um dia me prejudicaram hoje não me causam nenhum sentimento negativo, sinto o botão da indiferença ativado em mim. E quando percebo que tentam me prejudicar, apenas me afasto, numa boa distância para que o mal não me atinja. Fujo de querelas e de desavenças, fico na minha, como expectadora dos descontroles alheios. Tento manter neutralidade nas situações conflitantes.
Evito dar opinião na vida alheia, inclusive até de filhos e netos, e detesto críticas e que deem palpite na minha. Tenho capacidade de agir estando em plena senescência, senil é quem se acha no direito de interferir na liberdade, minha e de outros, em especial a quem foi dada a graça da longevidade. Permita-nos livremente escrever e passar a limpo a própria história.