Crônicas
Amigos
Escrevo no dia em que se comemora o Dia do Amigo, e o tema me é muito prazeroso. Ao longo da vida vamos agregando amigos, e estes naturalmente vão se desagregando pela própria mudança de interesses, de trabalho e de posturas.
Por: Marilene Depes em 26 de julho de 2021
Escrevo no dia em que se comemora o Dia do Amigo, e o tema me é muito prazeroso. Ao longo da vida vamos agregando amigos, e estes naturalmente vão se desagregando pela própria mudança de interesses, de trabalho e de posturas. Amigos que éramos — dos pais dos amigos dos nossos filhos, hoje os observamos nas fotos antigas com um distanciamento que assusta. Amigos das academias que abandonamos há anos, dos espaços em que trabalhamos — e que até tentamos manter durante algum tempo, mas que se perdem no longo da vida. Amigos dos grupos com objetivos comuns, tantos que passaram por nossa vida e que deixaram lembranças, algumas tão fortes que nos sacodem interiormente quando os encontramos.
Fazer amigos é uma arte, simples e concreta. Unimo-nos por laços comuns, por sonhos idênticos, por ideais que se completam. Quando nos identificamos com alguém, quando a empatia é compartilhada, não são traços diferentes que vão dificultar o encontro. Amigos não têm idade, não tem cor, não tem sexo, não tem religião. Amigos simplesmente são pessoas em quem confiamos, com quem partilhamos a vida — em seus momentos alegres e tristes. Amigos são pessoas sem preconceitos, sem falsos pudores, sem censuras. Em certa altura da vida, os verdadeiros amigos aprovam até as nossas inconsequências — amigo não é conselheiro nem é crítico; quando se necessita, busca-se um terapeuta para essa função. Amigo é parceiro, simplesmente fica ao lado, de preferência calado e acolhedor.
Amigo cresce, floresce e nos abastece. Para sempre não sei. Pelo menos e por etapas da vida, até que nos transportemos para outras dimensões, pois a vida é cíclica. E nela vamos fazendo novos amigos e nos afastando naturalmente de outros mais. Mas, mesmo distantes, sempre sopra uma fagulha de amor nas amizades que foram se dissolvendo pelo tempo. Se fazer amigos é um dom, o caminho para transformá-los em “desafetos”— assim os designo por considerar a palavra inimigo muito forte, é a traição à confiança em que neles depositamos.
Pretendo chegar ao final da vida repleta de amigos leais e pretendo oferecer a reciprocidade a cada um deles. Meus amigos de hoje preenchem um espaço que a só eles pertence. Se permanecerão para sempre é uma incógnita, que só o tempo há de responder.