Crônicas
As mulheres avançam
Impõe que eu repita esta crônica. Faz bem ao coração e a alma, apaziguando este mundo em guerra. Abro o jornal e leio: Irmã Otília completa 60 anos de vida religiosa e 90 de idade.
Por: Wilson Márcio Depes em 17 de outubro de 2023
Impõe que eu repita esta crônica. Faz bem ao coração e a alma, apaziguando este mundo em guerra. Abro o jornal e leio: Irmã Otília completa 60 anos de vida religiosa e 90 de idade. Mais de meio século visitando “meus doentes na Santa Casa”. Este ano ela foi condecorada com o título que recebi ano passado: “Cachoeirense Presente”. Que diferença, né? Uma santa e um pecador. Aliás, matéria do jornal Fato é muito bem escrita, com rigor e emoção necessários, sem escorregar para elogios desnecessários ou vazios. A vida dela, que todos conhecem, porque veem e sentem, é uma oração. Todos dias que venho para o trabalho a encontro caminhando em direção à Santa Casa, procedente do antigo Cristo Rei, como já disse, para acariciar seus doentes. Estejam eles onde estiverem, até mesmo na UTI.
Certa feita ela aceitou uma carona minha. Levei-a para conhecer meu escritório, bem perto da Santa Casa. Fiz uma entrevista para o meu próximo livro de Fotocrônicas, assim como disparei o celular arrebatando, docemente, algumas fotos. Publiquei uma modesta crônica. Curioso é que, se fosse candidato a Prefeito, estaria eleito. Fui parado na rua e recebi inúmeros telefonemas e mensagens. Isso porque tracei apenas um perfil, singelo, daquela cuja vida tem como lema “ficar na cabeceira dos doentes”.
Não sei por que me lembrei de uma exigência do curso de Direito. William James aconselhava: onde encontrar uma contradição, faça uma distinção. Feita a distinção, o enigma ganha outra descrição, e, quem sabe, virão a surgir novos fachos de luz, novas lanternas e novos parceiros na busca do que desejamos. Confesso, sem pudor, não encontrei uma contradição sequer em nossa longa conversa. Resumo: “Sou uma pessoa simples e só faço o que Jesus mandou”. Mesmo assim e por isso mesmo vieram vários fachos de luz em busca do que todos nós almejamos.
Isso porque unindo palavras acaba por unir a própria vida, no seu peito partida e repartida, mas um modo de amar – e de ajudar o mundo a ser melhor. Só espero que Deus nunca apague de meu coração o exemplo desta mulher. Tenho a impressão que nas linhas de suas delicadas mãos está escrito o destino de cada um de nós. Amém.