Crônicas
Campanha da fraternidade 2020
Deixou uma obra filantrópica, que faz mais de 4 milhões de atendimentos por ano aos usuários do SUS
Por: Marilene Depes em 20 de março de 2020
Todo ano a Igreja Católica lança um tema durante a Quaresma, cujo simbolismo remete aos quarenta anos do povo judeu até chegar a Terra Prometida, os quarenta dias da profecia de Jonas em Nínive e os quarenta dias que Jesus passou jejuando no deserto, antes de iniciar a vida pública. Neste período somos convocados a jejuar – não só de alimento, mas principalmente do que nos torna escravos e que nos afasta de Deus; a praticar a oração diária – esta nos possibilita colocar Deus no centro da nossa vida; e a esmola – distribuir com os necessitados tudo o que possuímos em excesso e que não nos é mais útil, tornando-nos pessoas mais livres.
Neste ano o tema é: “Fraternidade e vida: dom e compromisso”. E o lema: “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele”. O cartaz da campanha remete a Irmã Dulce, que foi canonizada, e que conseguiu unir fé e ação – seu exemplo foi de perseverança, sem deixar de lado a prudência e a esperança. Ela via o próximo como o próprio Cristo, respeitava profundamente os diferentes sem nunca abrir mão dos seus princípios. Por conta das suas atitudes em favor dos pobres e marginalizados sofreu preconceitos e até violência física, mas não desistiu. Deixou uma obra filantrópica, que faz mais de 4 milhões de atendimentos por ano aos usuários do SUS. A obra surgiu de um espaço em que a Irmã Dulce abrigava pobres e doentes recolhidos das ruas.
Durante a explicação da escolha do tema da Campanha, situações contemporâneas que põem em risco o valor da vida foram citadas – “As mortes nas ruas, nas macas de hospitais, as provocadas por balas perdidas, a fome, o desemprego, a ausência de moradia para milhões, a inexistência de educação para todos, a devastação dos campos e reservas indígenas, os índices crescentes de suicídio”. É necessário refletir se os casos não estariam sendo tratados com indiferença levando ao ponto de acreditar que a morte seja a solução.
O ato de rezar, orar, foi ensinado por Jesus Cristo – orai para que vossa alegria seja completa. Entretanto não basta apenas orar, mas também agir. E encerro lembrando o exemplo do Bom Samaritano, citado no Evangelho de Lucas. Ele encontrou, caído na estrada, um homem que fora assaltado e ferido. Por ali já havia passado um sacerdote, um levita e finalmente o samaritano, povo desprezado pelos judeus. E foi o samaritano que cuidou, acolheu, enfim se compadeceu do ferido através de atos concretos. A quaresma é um período para refletir e agir – quem é o próximo que precisa de mim?