Crônicas

Cuidado com os maus…

Um velho político de nossa terra, diante de uma traição no curso das eleições, ficou famoso por sua expressão: “Enfim, não tem mais a dizer. É o ser humano”.

Por: Wilson Márcio Depes em 31 de janeiro de 2022

Um velho político de nossa terra, diante de uma traição no curso das eleições, ficou famoso por sua expressão: “Enfim, não tem mais a dizer. É o ser humano”. Dirceu Cardoso, senador capixaba brilhante, resmungava: “Tenho horror de pessoas boazinhas! Ou não é ou não é”. Hélio Carlos Manhães, com sua verve de não contrariar ninguém, narrava: “Olha, vivemos um quadro de crises.” Esse era o ambiente político que vivíamos nas décadas de 70 e 80. A propósito, dia desses, o professor Luiz Alberto PY, disparou, no mesmo sentido mas numa linguagem psicanalítica: “Cuidado com os maus”. Isso porque, como diz ele, costumamos ouvir argumentos favoráveis à ideia da maldade intrínseca da nossa espécie e somos diariamente invadidos por notícias negativas sobre o comportamento das pessoas. São as notícias que chamam a atenção e nos fascinam pelo horror e por quanto estão distantes de nós.
Os nossos políticos, que acredito, eram sábios, já diziam isso lá atrás, até mesmo para se proteger do seu algoz. Aliás, ao mesmo tempo em que nos diz isso, o professor Py nos acalenta: “Porém a imensa maioria da população é fundamentalmente generosa, solidária e altruísta. Ou seja, os maus e egoístas são uma minoria violenta e selvagem que contamina a sociedade.” Uma reflexão sobre a sobrevivência de nossos antepassados primitivos apoia a aceitação dessa tese. É fácil imaginar que os caçadores-coletores do começo da humanidade tiveram possibilidades muito melhores de sobrevivência ao se apoiar solidários para, juntos, enfrentar perigos e procurar alimentação e abrigo. Os solitários egoístas tiveram menos oportunidades de chegar a procriar”. Será que descendemos mesmo de criaturas sociáveis, empáticas, generosas e que carregamos em nosso DNA os genes do amor ao próximo e da solidariedade. Junto também, é claro, à violência dos caçadores carnívoros, como quer o mestre, eu me pergunto.
Sempre que posso relembro e me debruço sobre o “Mal Secreto – a Inveja”, livro do meu amigo Zuenir Ventura. Diz ele: “O ódio espuma. A preguiça se derrama. A gula engorda. A avareza acumula. A luxúria se oferece. O orgulho brilha. Só a inveja se esconde.” Nunca prestei muita atenção nisso, até descobrir que esse é o maior pecado do ser humano. Por inveja você faz tudo. Portanto, sigamos o conselho do professor: Quem se considera uma pessoa boa deve se juntar aos bons e apoiar os tolerantes, os amorosos, aqueles que procuram dialogar e debater ideias. E evitar os maus, sem piedade, sem compaixão, os donos da verdade que insistem em fórmulas radicais e desejam eliminar seus adversários. Os bons precisam procurar os que são capazes de se questionar e duvidar. E se afastar dos que têm certezas e fórmulas prontas. Esses são os perigosos.