Crônicas

De rimas, saudades e democracia

Tenho vindo a pé para o escritório. Uma boa caminhada. Converso com um, com outro. Pulo pelos buracos infernais das calçadas.

Por: Wilson Márcio Depes em 8 de agosto de 2022

 

Tenho vindo a pé para o escritório. Uma boa caminhada. Converso com um, com outro. Pulo pelos buracos infernais das calçadas. Vejo motos e carros disputando espaço nas ruas. Se ainda jogasse futebol seria um bom treino para um clássico. Penso nas eleições. Na campanha contra as urnas eletrônicas que não passa de preparação extravagante de um possível golpe. Aliás, campanha repudiada por toda população. A não ser os fanáticos. Pior ainda: assisto a trabalhadores fixando um outdoor enorme: “Compre a sua arma. Venha treinar tiros”. Entro em pânico. Atordoado, penso… preciso trabalhar. Tenho prazos a cumprir. Vou tentando ordenar a minha cabeça, que está em pânico, com coisas mais suaves, inclusive olhando para o rio Itapemirim. Está sereno.
Encontrei um alento. Lembrei-me, hoje, de uma conversa que tive com o Ziraldo, quando recebi o título de “Cidadão Caratinguense”, proposto por ele e referendado pela Câmara Municipal. Um detalhe: Ziraldo teve uma dor muito forte antes da cerimônia e não pôde ir à festa. Ficamos conversando por um longo tempo, no Hotel. Ele contou histórias de sua mãe, dona Zizinha. Cantou uns versinhos de infância que lá em Minas era de um jeito e eu, moleque, aprendi de outro aqui em Cachoeiro. Lá, era assim: “Hoje é domingo / pé de cachimbo / o cachimbo é de barro / que bate no jarro / o jarro é de ouro / que bate no touro / o touro é valente / que bate na gente / a gente é fraco / que cai no buraco / o buraco é fundo / que arrasa o mundo”. Porém, em Cachoeiro, era diferente: “Hoje é domingo / pé de cachimbo / o cachimbo é de ouro/ que bate no touro/ o touro é valente / que bate na gente / a gente é fraco/ que cai no buraco/ o buraco é fundo / acabou-se o mundo”.
Parece uma conversa tola, mas com essas lembranças vejo os olhos da minha mãe ficarem cada vez menores à medida que ela ia rindo e eles – os olhos – ficavam molhados das pequenas lágrimas da alegria. Como gostaria que ela estivesse aqui ainda para dizer-lhe que lá na terra dela (Minas) a cantiga era diferente. O tempo passou depressa demais e, a essa altura da minha vida, já não trabalho muito com a esperança. Mas continuo com a luta que, com medo, minha mãe acompanhou. Assinei o “Manifesto a favor da Democracia”. E assinarei muito mais para manter a minha melhor luta: a favor da democracia.