Crônicas

Imaginação

Em 17 de fevereiro, estava no aniversário do meu neto Bernardo. Completou três anos de vida na capital paulista. No ano passado, 2020, por conta da pandemia do SARS-CoV2 (Covid-19), fiquei receoso para viagens, mais ainda de avião, e me afastei dele por meses.

Por: Sergio Damião em 8 de março de 2021

Em 17 de fevereiro, estava no aniversário do meu neto Bernardo. Completou três anos de vida na capital paulista. No ano passado, 2020, por conta da pandemia do SARS-CoV2 (Covid-19), fiquei receoso para viagens, mais ainda de avião, e me afastei dele por meses. Interessante lembrar: no aniversário de um ano de vida, ele começava a dar os primeiros passos e em seguida uma leve carreira com pequenas quedas, na maioria das vezes me angustiava; 12 meses depois, ele começava a desenvolver a linguagem: Vovô! Óia vovô, passarinho. Olhava para o céu e completava: Vovô Sergio, vovô… Um monte de passarinho. Óia! Na distância, e ao longo dos meses, não percebi que além da parte motora, da linguagem – frases completas e bem elaboradas, ele evoluiu na imaginação. Assemelha-se a um cientista nas inquirições: Por quê? Por quê? Sim, uma pergunta aparentemente simples, mas fundamental para o entendimento das coisas da vida.

Um questionamento essencial. E a criança o utiliza com naturalidade. Na inocência do isolamento do apartamento, alternados com pequenos passeios em parques e praças, sem a presença de outras crianças em escolas ou creches, ele faz do seu pequeno quarto, uma ilha de ilusões. Nas figuras de animais da parede do quarto se sobressaem baleias, tubarões, golfinhos e peixes. De repente, ele vem à sala e me chama: Vovô! Vovô Sergio! Vamos pescar. Mas Bernardo, eu lembro a ele, vovô já falou, quando você estiver maior, vovô leva para pescar no rio Itapemirim, lá em Cachoeiro, onde vovô mora. Não vovô. É de mentirinha, lá no meu quarto. Pega os brinquedos: concha, estrela do mar, peixes, tubarões, golfinhos e estende na cama transformada no mar. Antes de deixar a concha sobre o lençol, ele diz, colocando-a próximo ao meu ouvido: ouve vovô, as ondas do mar. Volta correndo à sala e pede: Vovó Bila, as varas para pescar? Retorna com duas pequenas varetas. Me entrega uma e estende a mão e diz: a isca,vovô! Uma minhoquinha. Pede para que eu ajeite a isca e começamos uma pequena aventura. Digo que estamos próximos ao mar que tome cuidado, ainda não sabe nadar, que coloque a bóia, os itens de segurança… Ele completa: Não, vovô! É de mentirinha… E começa a rir.