Crônicas

O labirinto do cérebro

Percorri o mesmo caminho literário de Gabeira durante a pandemia do Covid-19. Pior que, mesmo com a esperança da vacina, algumas reflexões trago aqui neste meu cantinho de página.

Por: Wilson Márcio Depes em 14 de dezembro de 2020

Percorri o mesmo caminho literário de Gabeira durante a pandemia do Covid-19. Pior que, mesmo com a esperança da vacina, algumas reflexões trago aqui neste meu cantinho de página. Acabei relendo “A peste”, de Camus. E a confusão proporcionada pelo presidente acabou me arrastando para a peça “Calígula”, do mesmo autor. São livros antigos na minha estante. Lembro-me da história que me foi contada sobre o autor. Certa vez, Carlos Lacerda perguntou, na redação de seu jornal “Tribuna de Imprensa”, quem conhecia ou poderia falar alguma coisa sobre Camus. Zuenir Ventura, que veio de Porto Novo do Cunha (MG) para o Rio, levantou e contou a história da vida do autor. Lacerda o contratou na hora, de boca aberta. De lá pra cá nunca deixei de ler Camus. Não há espaço nem tempo para analisar as duas trajetórias. Mas o “Calígula” de Camus, longe de fabulações vulgares, é uma excelente reflexão sobre o absurdo e o poder. Coisas que temos visto por aí e que pensei nunca mais encontrar ou reencontrar. Diz: “E de que me serve ter as rédeas na mão, de que me serve meu espantoso poder, se não posso alterar a ordem das coisas, se não posso fazer com o que o Sol se ponha ao nascente, com que o sofrimento diminua, e os homens não morram?”. Tudo a ver com o momento atual. Vejo algumas casas iluminadas, com aquela corrente de pequenas lâmpadas, mas, até nelas, sinto um melancólico ar de tristeza. O que vem por aí? Se o próprio Calígula alucinado não sabe, quem diria eu. Fui em busca de socorro. “No labirinto do cérebro”, o Dr. Paulo Niemeyer Filho divide com o leitor sua experiência como neurocirurgião e, de forma clara e acessível, descreve não só o funcionamento do cérebro como as mais recentes descobertas nessa área, explorando temas tão variados como a formação da memória, os mistérios da dor ou os efeitos por vezes inusitados de um distúrbio cerebral. A essa narrativa somam-se ainda as histórias fascinantes e às vezes surpreendentes de casos que acompanhou desde o início de sua carreira, e também os que ouviu de seu pai, o Dr. Paulo Niemeyer, considerado o maior nome da neurocirurgia brasileira. Seguindo a melhor tradição dos livros de divulgação científica, Niemeyer discorre sobre as grandes descobertas e a evolução da medicina, apontando também seus caminhos e possibilidades. Embarquei nessa. Vamos ver o que vai dar…