Crônicas

O país em duas rodas…

Por que o senhor está tão triste? É verdade. Porque saio e chego em casa com notícias de acidentes fatais com motos. Confesso, e o faço sem qualquer constrangimento, que não suporto mais a quantidade de acidentes com moto.

Por: Wilson Márcio Depes em 2 de maio de 2024

Por que o senhor está tão triste? É verdade. Porque saio e chego em casa com notícias de acidentes fatais com motos. Confesso, e o faço sem qualquer constrangimento, que não suporto mais a quantidade de acidentes com moto. Pior: com vítimas fatais. Contorço-me em dores emocionais. O jornal, no afã de um bom título, tascou lá: “o Brasil é um país em duas rodas”. Nada contra. Sobretudo porque um dos pontos que explicam essa demanda acelerada por motos é a relação custo-benefício.
Segundo informe – que merece total credibilidade – com aumento da procura de motos, o país já tem, hoje, 27 milhões de motos circulando pelas ruas. Circulando, diga-se, com muita imprudência. Há um exército de profissionais que atua com entregas ou como motoristas de aplicativo. Eu, para ser honesto, não sei o que dizer. São pessoas trabalhando. O que me amedronta, a rigor, é a falta de prudência. A vida fica submetida a um sopro. Até que encontro pais chorando pela morte de um filho… num acidente de moto.
Fico me perguntando, já bem próximo das eleições, se não há um projeto para proteger os motoqueiros. Ou uma pista própria para motos. Recebo a notícia que as Faixas Azuis para motos que estão em teste há pouco mais de um ano na cidade de São Paulo poderão ser liberadas para implantação em todas as cidades brasileiras que quiserem adotar o modelo. Seria uma solução? Ando tão preocupado… que tudo me coloca em pânico. Sempre que há uma inovação tenho ímpeto de consultar Jaime Lerner, que, infelizmente, já se foi.
A única coisa que tenho certeza é que não se pode enxugar tantas lágrimas de familiares que perdem seus entes queridos nesses brutais acidentes. Isso, juro, não pode ser qualidade de vida. Lerner dizia que morar bem não é, apenas, ter uma residência de bom acabamento, com espaço e divisões adequadas para abrigar toda a família. E nem ter decoração apropriada para dar maior aconchego e beleza aos ambientes. A qualidade de vida nas cidades é obtida através de um planejamento em constante adaptação às novas necessidades da população. Não me cansei de dizer que qualidade de vida é aquela cidade que reúne no entorno da moradia o trabalho, a escola, o comércio e o lazer.