Crônicas

O que a vida pede …

Reconheço. Durante os últimos tempos fui um crítico infatigável do presidente Bolsonaro, aqui nesta coluna. A crítica, democraticamente, não era só contra sua pessoa, mas ao seu governo, suas atitudes, sua arrogância, sua instabilidade.

Por: Wilson Márcio Depes em 7 de novembro de 2022

Reconheço. Durante os últimos tempos fui um crítico infatigável do presidente Bolsonaro, aqui nesta coluna. A crítica, democraticamente, não era só contra sua pessoa, mas ao seu governo, suas atitudes, sua arrogância, sua instabilidade. Não me arrependo de nada. Sempre que, dentro de minhas balizas, era sincero com o caro leitor. Muito leitor virou a cara pra mim. Ou pulou a minha crônica Tinha e tenho essa consciência. Basta dizer que o presidente teve 69,40% votos do total da cidade, enquanto Lula, 30, 60%. Mas, juro, todas as minhas crônicas foram em favor de uma Frente Ampla em busca da estabilidade da democracia que se viu, permanentemente, ameaçada por ato de força de Bolsonaro e sua troupe.
Repito Mia Couto: estávamos – estamos ainda – sob o comando de quem sentia – e sente – saudades da ditadura. Em contrapartida, a Frente Ampla se organizou com próceres de vários partidos acima de qualquer preconceito ideológico. E deu no que deu. Uma vitória apertada para permitir que Lula fizesse, em São Paulo, logo após a divulgação do resultado, um discurso histórico. Um discurso de um democrata. Um discurso do qual ninguém foi excluído. Creio que a essa altura da vida poderá e deverá cumprir o que prometeu. Não quero dizer aqui que me fixo em líderes populistas. Já sofri na ditadura. Sei o que é ter a liberdade violada, assim como ser submetido à censura ou conviver com os “famosos deduros”. Sei o que é viver num estado de violência, onde a lei não é respeitada. Senti, agora, neste governo, o cheiro forte disso tudo e mais alguma coisa.
Li uma crônica de Martha Medeiros, que desabafou: depois de tanta exaustão, na qual disse que não vai virar as costas para política. Nem podemos. O presidente, disfarçadamente, não sairá do Palácio sem abalos. Mas, depois dessa tormenta, desse processo doloroso, tentando informar, combatendo fake news, ser solidários com colegas da imprensa, voltará às reflexões sobre filmes, livros, dores, amores, descobertas, viagens, confidências. Mais ou menos como universo entre quatro paredes, enquanto a vida corre lá fora. Sinto muita gente desse mesmo jeito, dentro, por óbvio, de suas possibilidades. Não sei, mas respeito o cansaço de alguns. Mas nada mais justo que lutar por um país melhor. Afinal, não é o que a vida pede.