Crônicas

Os Sabiás da crônica

Sabiá-laranjeira é a ave símbolo do nosso país e do estado de São Paulo. Em sua família se destacam o corpo alongado, pernas robustas e bicos medianos. De tudo, o que se sobressai é o canto onde seduz as fêmeas e demarca o território.

Por: Sergio Damião em 16 de dezembro de 2021

Sabiá-laranjeira é a ave símbolo do nosso país e do estado de São Paulo. Em sua família se destacam o corpo alongado, pernas robustas e bicos medianos. De tudo, o que se sobressai é o canto onde seduz as fêmeas e demarca o território. O beija-flor, colibri, é a ave dos capixabas, por conta do cientista Augusto Ruschi, do município de Santa Teresa. Vem de Gonçalves Dias, poeta do romantismo brasileiro, em Canção do Exílio: Em minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá/ as aves que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá […]. Recentemente, Augusto Massi reuniu em livro os Sabiás: Rubem Braga, Vinicius de Moraes, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta) e José Carlos Oliveira. Acho que Bernardo, meu neto mais velho, ficaria feliz em saber que o Sabiá, um dos pássaros que ele identificou em uma das janelas do apartamento, é o pássaro símbolo de sua cidade e estado. No futuro, quando aprender a ler e escrever, a emoção será enorme ao deparar com a mais linda crônica do Braga: O conde e o passarinho. Conto sobre os Sabiás da crônica para falar do encontro de fim de ano da Academia Cachoeirense de Letras na residência da presidente Marilene Depes. Amantes da poesia, crônica e romances trocaram livros como se fosse um abraço nesses tempos de pandemia. Abraço recebi em outro livro: Em busca de sentido. Recebi da médica residente Marcela Beerli do Hospital Evangélico de Cachoeiro de Itapemirim (HECI). O livro de Viktor E. Frankl ensina, mesmo em situação limite, a não desistir da essência humana e conclui: “Se é que a vida tem sentido, também o sofrimento necessariamente o terá.” Marcela em poucos anos de exercício da medicina, muito por conta de estar no centro da maior catástrofe sanitária mundial dos últimos cem anos, observa e convive diariamente com a dor. Algo a se perguntar: qual o sentido de uma pessoa ter tanto sofrimento físico. Ao me ofertar o livro, o qual eu não conhecia, ao despertar para o assunto, prova de uma humanidade que despertei após anos do exercício da medicina. Algo está mudando com a pandemia do coronavírus. Diante do sofrimento, penso no Sabiá, no canto forte da ave canora, lembro do meu neto Bernardo quando chamava: “Olha vovô! Vovô Sergio! Um monte de passarinho…”