Geral

Presidente da Rede Gazeta, Cariê Lindenberg morre aos 85 anos

Nos últimos anos, ele se dividia entre a leitura e a música em sua residência na Ilha do Frade, em Vitória. Desde o começo da pandemia da Covid-19, permaneceu em isolamento social. Apaixonado pelo campo, ele tinha na Fazenda Três Marias, em Linhares, uma de suas paixões.

Por: Redação em 6 de abril de 2021

O empresário, músico e escritor Carlos Fernando Lindenberg Filho, o Cariê, morreu nesta terça-feira (6), em Vitória, aos 85 anos, em decorrência de complicações de uma pneumonia.

Responsável pelo surgimento da maior rede de comunicação do Espírito Santo, fundador da TV Gazeta, afiliada da TV Globo, e do site “Gazeta Online” – hoje “A Gazeta” -, ele presidia o Conselho de Administração da Rede Gazeta.

Em decorrência da pandemia do novo coronavírus, o velório e o enterro vão ser restritos à família.

Cariê deixa três filhos: Carlos Fernando (Café), Letícia e Beatriz; e cinco netos – Eduardo, Mariana, Carlos Fernando, Carolina e Antônio.

O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), lamentou a morte de Cariê e decretou luto oficial de três dias.

“Recebo com muita tristeza a morte de Cariê Lindenberg. Cariê comandou a Rede Gazeta por muitos anos com isenção e profissionalismo. Ajudou a projetar o nosso estado para o Brasil todo. Minha solidariedade aos amigos e, em especial, minha solidariedade à família de Cariê”, disse.

O prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), também falou sobre a morte do empresário.

“O Espírito Santo começou essa terça-feira de maneira muito triste com a notícia do falecimento de Cariê Lindenberg. Fica o legado do escritor, do empresário e do músico. O legado da democracia, da ética, da retidão, da construção de um grupo sólido de comunicação com pilares muito fincados na democracia. Um homem à frente do seu tempo, que deixa uma história que vai marcar para sempre o estado”, comentou.

Ao longo de seus 85 anos, Cariê sempre foi um ferrenho defensor do jornalismo e da liberdade de expressão. Esteve à frente da Rede Gazeta entre os anos de 1965 e 2001. Foi por sua atuação que o Grupo Globo estabeleceu-se no Espírito Santo, tendo a TV Gazeta como afiliada, e posteriormente os negócios se expandiram, com a criação de rádios, do site e das emissoras regionais sediadas em Cachoeiro de Itapemirim, Linhares e Colatina.

Em 2018, por ocasião do aniversário de 90 anos da empresa, revelou sempre ter sido um apaixonado pelo ambiente da redação.

“Minha tarefa não era lá, mas meu cacoete era ficar lá. Se não inteiramente na Redação, com os caras que eram os editores, diretores, jornalistas. Eu tinha, graças a Deus, excelente trânsito. Porque também era econômico em pedir as coisas, eu nunca mandei. Sempre propus discutir alguma coisa que fosse boa”, relembrou.

Cariê entrou para o mundo empresarial “por sorte” – como ele mesmo definiu em sua primeira obra literária, “Eu e a Sorte”, lançado em 2001. Sem qualquer experiência ou formação em administração, fez a fazenda da família, em Linhares, dobrar de tamanho, embora não tenha lhe dado lucro. Sob sua gestão, o jornal “A Gazeta”, que havia sido comprado por seu pai, o ex-governador Carlos Lindenberg, para apoiar o PSD e tinha apenas 38 funcionários, ganhou perfil imparcial e desvinculado de partidos políticos.

Filho do ex-governador que comandou o Espírito Santo por dois períodos (1947-1951 e 1959-1962), Cariê não quis ingressar na vida política. Na última passagem do pai pelo Palácio Anchieta, ele chegou a ser convidado a assumir uma cadeira no secretariado, após colaborar ativamente com a campanha, mas declinou da ideia.

“Disse ao papai: ‘não tenho conhecimento necessário para fazer-te uma boa companhia; vou continuar no meu carguinho. Mas é preciso você manter a [minha] mesada, porque não vou ficar com essa pobreza'”, contou, em 2019, com seu característico bom humor.

Foi um dos responsáveis pelo processo “de forma lenta, real e gradativa”, como explicava, de separar o jornal “A Gazeta” de vínculos políticos, na década de 1960, fato do qual ele sempre manifestou orgulho.

“Houve a possibilidade de caminharmos para a isenção e a ponderação das verdades. É uma marca de A Gazeta. Vi isso em vários jornais importantes do Brasil e do mundo, e também nos livros sobre ética jornalística. Absorvi com muita naturalidade”, pontuou.

Uma reflexão que revelou em sua última entrevista, concedida ao jornalista Abdo Chequer em setembro de 2019: “No jornalismo não cabe favor. Nem favor a favor e nem favor contra. O jornalismo tem que ser isento, tem que ser a transparência do que ocorre com a sociedade a que ele serve”.

Em seu livro, “Vou Te Contar”, Cariê resumiu sua trajetória: “Eu encontrei a vida na Gazeta e larguei todo o resto que eu fazia. Talvez um terço ou mais das histórias do livro sejam vinculadas à Gazeta porque foi a coisa mais importante da minha vida”.

Os filhos do patriarca da Rede Gazeta, Café, Leticia e Beatriz Lindenberg, falaram sobre o pai.

“Para muitos, Cariê Lindenberg era um sinônimo de Rede Gazeta, de música, de alegria de viver. Tivemos a sorte de ter um pai singular em todos os aspectos, alguém que sempre foi muito mais que isso. Papai nos transmitiu o entusiasmo por novos projetos, o apreço pela verdade e pelas relações humanas. Sobretudo, nos ensinou a ter um olhar generoso para o que está ao nosso redor, para as coisas simples que não podemos deixar de ladoHoje é um dia de tristeza para nossa família. Mas é uma tristeza acompanhada de alento, porque os ensinamentos que ele deixa para nós, seus filhos, ultrapassam o limite da vida e fica para sempre”, disseram.