Crônicas

Realidade Mágica

Gravidez não é doença. Mas, existem riscos. Risco em perdas de vidas e social (gravidez indesejada e na adolescência). A indesejada leva a atitudes desesperadoras e a interrupção a qualquer preço (aborto provocado).

Por: Sergio Damião em 26 de julho de 2021

Gravidez não é doença. Mas, existem riscos. Risco em perdas de vidas e social (gravidez indesejada e na adolescência). A indesejada leva a atitudes desesperadoras e a interrupção a qualquer preço (aborto provocado). Evitar a gravidez foi uma conquista na liberdade da mulher. A escolha do tipo de parto mudou com o tempo e com a facilidade cirúrgica. A Organização Mundial da Saúde (OMS) confirma o parto vaginal como o parto natural, o mais fisiológico para o feto. A escolha da mulher e de grande parte dos médicos é pela cesariana. Com o crescente número de partos cesáreos, ao estudante de medicina restam poucos lugares para aprender, gradativamente vai desaparecendo aluno e professor com experiência em parto vaginal (normal). Como uma perda cultural, como uma língua em extinção. Desaparece uma forma de comunicação de aprendiz e mestre, por falta do seu uso. Permanecem algumas ilhas de resistência em Clinicas reservadas para aquelas mulheres sem direito a escolha. Um paradoxo, estas mulheres oferecem o melhor, o dito mais seguro para o feto, o mais recomendado pelas instituições de saúde reguladoras de ensino e pesquisas, em troca da sua dor. O estudante de medicina ao se defrontar pela primeira vez em uma sala de parto é tomado pelo pavor. Com a iminência da expulsão fetal, antes do choro e grito de vida fetal, receiam pelo tremor das mãos. Certa vez, de uma mãe ouvi uma história, algo inusitado. Tudo levava a um delírio. Ela encontrava-se em instituição psiquiátrica. A razão da internação foi uma depressão pós-parto, algo infrequente e de causa não muito clara. Dizia: “Sou do interior, sul capixaba, moro em uma roça. Com os últimos meses da gravidez, certo dia, percebi a perda de líquido e uma forte dor na barriga.” Encontrava-se em casa e sozinha com o filho adolescente. Solicitou ao filho: tesoura, toalhas, água fervida e barbante. Ele preparou com rapidez. Pelo número de filhos que dera a luz, sabia que aquele nasceria rapidamente. O adolescente segue as ordens da mãe e segura com firmeza o novo irmão, corta o cordão umbilical e amarra com barbante. Com o fim do relato, fiquei com a impressão que o pequeno rapaz, no pensamento da mãe, tornara-se homem e, a magia daquele momento, em fantasia ou realidade, ajudava em sua cura.