Crônicas

Roleta Russa

O título acima identifica um jogo de azar suicida, em que se coloca uma bala no tambor de um revólver, este é girado e se aciona o gatilho contra a própria cabeça ou a de outra pessoa.

Por: Marilene Depes em 27 de janeiro de 2021

O título acima identifica um jogo de azar suicida, em que se coloca uma bala no tambor de um revólver, este é girado e se aciona o gatilho contra a própria cabeça ou a de outra pessoa. A prática macabra surgiu na Rússia e foi nos Estados Unidos que fez mais vítimas. Na minha juventude ouvi muitos relatos a respeito e hoje já não é tão comum. Toda introdução tem por objetivo destacar que os idosos, pessoas com comorbidades e obesos vivem situação similar nessa pandemia. Durante dez meses não se pode fazer planos, não se convive comunitariamente e não se sabe se haverá amanhã. Essa doença segregou a humanidade, de um lado os jovens curtindo a vida e mantendo suas atividades na maior normalidade, sem preocupação com aqueles que, dentro das casas ficam se protegendo e na verdade estão na mira da roleta russa que é detonada das ruas, praias e festividades.

Para o grupo de risco no qual estou inserida, uma pequena ida a um supermercado ou farmácia é motivo de pânico, criei a maior antipatia de gente que sai às ruas sem máscara ou com elas debaixo do nariz ou do queixo. Se entro num comércio em que as pessoas estão sem máscara me retiro imediatamente, chamo à atenção dos vendedores ambulantes e me nego a comprar com quem não respeita os protocolos. Passei o Natal e Ano Novo com a família e fiquei contando os dias para constatar que não houve contaminação. Estou em Marataízes há 30 dias e só fui a praia quatro vezes, em dias de pouco movimento, ficando distante das pessoas e fiscalizando até o lado do vento para fugir da possibilidade do vírus voar prá cima de mim. Não reparem, virei uma neurótica.

A vida ficou menos espontânea, perdeu a graça, vive-se hoje na luta por se manter vivo. O único tema que me desperta interesse nos dias atuais é a vacina e quando vem. Nem quero saber de onde vem, a primeira que chegar estarei tomando. Numa roleta russa vou lá me preocupar se o imunizante que impede a bala fatídica de me atingir venha da China, Inglaterra ou Índia? Lembro-me na época de Sarney que a população foi convocada a fiscalizar os preços nos supermercados. Nunca fui fiscal de nada nem de ninguém, sempre fiquei na minha e cada um por si. E hoje me vejo na nefasta função de fiscal do corona, minha individualidade foi para o beleléu. Mas pelo menos ainda não perdi a independência. Tenho amigas à mercê dos familiares que, com o objetivo de protege-las, as mantém em cárcere privado ou as carregam prá lá e prá cá como um saco de batatas. Aí é o fim!