Crônicas

Ser feminista para sobreviver

O Brasil registrou no ano passado o estupro de uma mulher a cada 10 minutos, sendo que elas são bebês, crianças, adolescentes, adultas, idosas, deficientes, hospitalizadas, e em locais diversos como nos lares, nas mesas de parto, nos consultórios e até nos necrotérios.

Por: Marilene Depes em 25 de julho de 2022

O Brasil registrou no ano passado o estupro de uma mulher a cada 10 minutos, sendo que elas são bebês, crianças, adolescentes, adultas, idosas, deficientes, hospitalizadas, e em locais diversos como nos lares, nas mesas de parto, nos consultórios e até nos necrotérios. Há anos a Santa Casa dava abrigo a um morador de rua que chamavam de Coringa e que posteriormente descobriu-se que estuprava mulheres mortas. Essa história era contada como piada e eu não conseguia entender o humor decorrente de em fato tão horroroso. E é assim que a banda toca… Estamos vivendo e lutando para sobrevivermos, num mundo em que o patriarcado dita as regras. Nos meus tantos anos de vida nunca assisti tanto desprezo à condição feminina e tantos abusos, tinha conhecimento dos praticados pelos senhores com as escravas, com as empregadas domésticas, e todas as que exerciam funções consideradas de categoria inferior, num contexto de patriarcado vigente. Hoje os abusos estão aumentando de forma assustadora, como se houvesse uma ordem superior favorável e incentivadora de tais delitos. Mulher corre risco em qualquer lugar, no lar os estupradores podem ser pais, padrastos, tios, avôs, primos, irmãos e até maridos, nas igrejas os padres, pastores e médiuns, nas escolas os professores, nos consultórios os médicos e dentistas, no trabalho os patrões. E o abuso é sempre acompanhado de ameaças que dificultam as denúncias e pedidos por socorro. Mulher não pode sair à noite, não pode usar uma roupa curta ou decotada, não pode nem ser feliz porque se for muito risonha está dando mole e corre risco.
Enquanto forem disseminadas por autoridades frases machistas, homens são consumidores e mulheres são fornecedoras, o grau de misoginia no país só acelera.
O Brasil registra um caso de feminicídio a cada 6 horas e meia. Apesar do dado ser aterrador, sempre pensamos que não vai acontecer na nossa família ou nas proximidades, mas um dia acontece. Tanto nas periferias como nos centros, com as pobres e as ricas, com as incultas e as cultas, com as negras e as brancas. O feminismo pode nos ajudar a sobreviver, ele nos impõe o respeito de quem conhece seus direitos e luta por eles.
E encerro agradecendo ao Prefeito Municipal Victor Coelho, que viabilizou a abertura da Casa Rosa, que entre tantos atendimentos direcionados às mulheres oferecerá uma serviço específico àquelas que sofrem qualquer tipo de violência. Sempre há uma luz no fim do túnel.